Por Marcílio Cipriano (estágio supervisionado sob a supervisão da Profa. Sammara Jericó)
Um grupo de professores da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) deu início a uma jornada que promete transformar pesquisas acadêmicas em soluções concretas para o mercado. O programa nacional Catalisa ICT, uma iniciativa do Sebrae nacional, abriu sua fase de capacitações e mentorias técnicas, reunindo pesquisadores de diferentes campi da instituição.
O Catalisa ICT seleciona pesquisadores de Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação (ICTs) cujos trabalhos demonstram elevado potencial de aplicação prática. Nesta edição, cinco docentes da UESPI conquistaram vagas no programa.
A representatividade geográfica dos selecionados – Picos,Teresina, Piripiri e Parnaíba – reflete a capilaridade da produção científica da universidade em território piauiense.
Conheça os pesquisadores e seus projetos inovadores:
Alcemir Rodrigues Santos – Campus Piripiri – Ciência da Computação

A APOTY nasce como resposta a uma realidade frequentemente ignorada: as barreiras de comunicação enfrentadas por pessoas com limitações físicas, sensoriais e cognitivas, especialmente em municípios do interior do estado, onde o acesso a tecnologias assistivas costuma ser limitado por questões geográficas e econômicas.
A proposta envolve a criação de vocalizadores de baixo custo, vestíveis e controlados remotamente, voltados à ampliação das capacidades comunicativas de pessoas com deficiência.
A startup, que foi aprovada na segunda edição do edital do Startup Nordeste entre as 20 primeiras, tem como diferencial está justamente na abordagem interdisciplinar. A APOTY reúne cinco docentes da UESPI com formações complementares, criando um ambienteonde diferentes perspectivas convergem para um objetivo comum. A equipe fundadora é composta por:
• Professora Ma. Olivia Mafra (Fisioterapia)
• Professora Dra. Nadja Pinheiro (Psicologia)
• Professor Dr. Antônio Luiz Maia (Medicina Veterinária)
• Professor Dr. Alcemir Santos (Ciência da Computação)
• Professor Dr. José Vigno Moura (Ciência da Computação)
Juntos, eles propõem soluções tecnológicas com base em vivências práticas e demandas reais da comunidade.
Francisco das Chagas Alves Lima (Chicão) – Campus Torquato Neto / CCN (Teresina) – Química

Da capital piauiense vem uma proposta que une dois campos aparentemente distantes: inteligência artificial e compostos químicos baseados em silício orgânico. O professor Chicão, como é conhecido nos corredores do Centro de Ciências da Natureza (CCN), campus Poeta Torquato Neto, é um dos integrantes da startup SilocoFármaco & NeurocirAI Soft, focada em aplicações neurocirúrgicas e terapias neurológicas.
“Nossa startup, a SilocoFármaco & NeurocirAI Soft, busca unir inteligência artificial e novos fármacos em soluções que otimizem procedimentos neurocirúrgicos e ofereçam terapias inovadoras para distúrbios neurológicos. É uma proposta com origem acadêmica, mas com um claro propósito social e clínico”, afirma o professor Chicão.
A startup que foi uma das selecionados no edital do Startup Nordeste, antes tinha o nome de NeurocirAI Soft, passou por ajustes no nome e agora se chama SilocoFármaco & NeurocirAI Soft para contemplar os outros produtos e áreas de atuação.
Mérik Rocha Silva – Campus Torquato Neto / CCA (Teresina) – Zootecnia

O professor Mérik Rocha Silva trabalha para democratizar o acesso à tecnologia genética no campo. Doutor em Genética pela Universidade Federal do Piauí, ele identificou um gargalo significativo: pequenos e médios produtores rurais enfrentam barreiras consideráveis para acessar avanços genômicos que poderiam transformar sua produção.
Seu projeto, provisoriamente batizado de EnbreedMax, propõe um produto biotecnológico inovador que não apenas aumenta o rendimento das partes comestíveis dos animais, mas também aprimora características sensoriais como sabor e textura – aspectos cada vez mais valorizados pelo mercado consumidor.
“Nosso intuito com a pesquisa foi difundir métodos alternativos eficientes e que não demandam tanta infraestrutura, e que possam ser aplicados no ambiente de fazenda, que é onde a gente precisa realmente estar atuando, né?”, afirma o professor Mérik Rocha.
O próximo passo do projeto envolve estabelecer parcerias estratégicas com a indústria e setores comerciais para viabilizar a produção e distribuição em escala. A expectativa é que a solução contribua significativamente tanto para a eficiência produtiva quanto para a sustentabilidade do setor agropecuário regional.
Thiago Assunção de Moraes – Campus Picos – Administração

Da região centro-sul do estado emerge uma proposta que aplica tecnologia de ponta ao turismo. O professor Thiago Assunção desenvolve uma plataforma web que utiliza inteligência artificial para analisar o que turistas compartilham nas redes sociais. O sistema coleta dados de plataformas como TripAdvisor, Google Reviews e TikTok, transformando-os em informações estratégicas para gestores, pesquisadores e empresas do setor.
A ideia ganhou corpo durante uma experiência internacional do professor no Instituto Politécnico de Bragança, em Portugal, onde colaborou com o laboratório UNIAG (Applied Management Research Unit) em pesquisas sobre análise de sentimentos aplicada ao turismo.
“Já temos dois anos de mercado, a gente já fez alguns serviços, pesquisa, planejamento estratégico, consultoria, e a gente fez algumas pesquisas de mercado voltado para essa área de análise de sentimentos, principalmente no período eleitoral, ano passado”, relata o professor Thiago.
Valdinar Bezerra dos Santos – Campus Parnaíba – Agronomia

Professor Valdinar Bezerra dos Santos
Completando o quinteto de inovadores, o professor Valdinar Bezerra traz do litoral piauiense um projeto com o propósito de transformar a realidade energética de comunidades rurais isoladas. A startup Solar Rural vem se destacando entre as iniciativas inovadoras e também foi aprovada na 2ª edição do edital Startup Nordeste Piauí.
O projeto, vinculado àUniversidade Estadual do Piauí (UESPI), propõe uma solução tecnológica baseada em energia solar off-grid, voltada a regiões que ainda enfrentam dificuldades no acesso à eletricidade.
A proposta vai além da tecnologia: ela está ancorada em um modelo de negócio pensado para o pequeno produtor rural. Com a adoção do sistema pay-as-you-go, os usuários podem pagar de forma proporcional ao uso, sem a necessidade de grandes investimentos iniciais. O objetivo é tornar o serviço financeiramente viável para famílias agricultoras, promovendo autonomia, dignidade e permanência no campo.
A iniciativa também se configura como espaço formativo. Ex-alunos e estudantes da UESPI compõem a equipe que desenvolve e valida a tecnologia no contexto do semiárido, numa abordagem que une conhecimento acadêmico, práticas sustentáveis e empreendedorismo social.
A etapa iniciada na última terça-feira, dia 22, representa um divisor de águas no cronograma doCatalisa ICT. Durante este período, os professores terão acesso a conhecimentos estratégicos em áreas como propriedade intelectual, desenvolvimento tecnológico, modelagem de negócios, validação de mercado e captação de recursos para inovação.
De acordo com o Sebrae, esta fase é fundamental para preparar os pesquisadores para apresentarem suas soluções de forma convincente tanto para o mercado quanto para potenciais parceiros, aceleradoras e investidores. “O início do programa Catalisa ICT marca um passo decisivo para a inovação no Piauí, impulsionando a transformação de pesquisas em soluções de mercado. Com 75 projetos aprovados, o estado se destaca nacionalmente como um celeiro de talentos científicos e empreendedores”, comenta Andreia Cavalcante, gestora de Startups Deeptechs no SEBRAE-PI.
O programa Catalisa ICT representa uma das principais iniciativas nacionais para conectar o conhecimento produzido nas instituições acadêmicas às demandas do mercado, oferecendo suporte técnico e recursos para que pesquisas possam se transformar em soluções aplicáveis. Para mais informações e detalhes de como funciona o programa clique aqui (link: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/catalisa/ictedital) para acessar a pagina do Catalisa no portal do Sebrae.
“A universidade, por meio do Núcleo de Inovação Tecnológica e da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, tem estimulado a participação de docentes e também de alunos ao desenvolvimento de pesquisas voltadas à criação de novos produtos e solução de problemas, e isso traz inovação”, destaca o professor Dr. Rauirys Alencar, Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação.
“Esta cultura de inovação fortalece não apenas nossos indicadores acadêmicos, mas contribui diretamente para o desenvolvimento regional”, concluiu.
A participação dos cinco docentes da UESPI neste programa nacional – assim como os demais profissionais envolvidos nas equipes dos 5 projetos – transcende o mérito individual e sinaliza a maturidade da produção científica da instituição e consolida seu papel como agente de transformação regional. Em um momento em que o Piauí busca diversificar sua matriz econômica e agregar valor à produção local, a universidade demonstra que a integração entre ciência, inovação e impacto social não é apenas possível, mas estratégica para o futuro do estado