Por Vitor Gaspar
Um projeto inovador na Universidade Estadual do Piauí (UESPI) visa promover melhorias significativas na qualidade de vida de crianças com paralisia cerebral (PC). A iniciativa envolve a parceria entre os docentes dos cursos de Fisioterapia, o Núcleo de Formação e Pesquisa em Energias Renováveis e Telecomunicações do Piauí (NUFPERPI) e o Núcleo de Biotecnologia do Colégio Amazonas, que estão desenvolvendo um acionador remoto que possibilita a interação e o estímulo das crianças com brinquedos comuns, proporcionando benefícios terapêuticos comprovados cientificamente. O projeto é coordenado pela Professora de Fisioterapia Olívia Mafra.
Com a aprovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI), a proposta ganha ainda mais relevância na área da saúde com a notícia do último censo do IBGE realizado no Brasil onde o percentual de pessoas com deficiência no Piauí chegou a 10,8% no ano passado. O indicador é o terceiro maior do Brasil, superado somente por Sergipe (12,1%) e do Ceará (10,9%).
No Brasil, estudos revelam que a cada 1.000 crianças que nascem, 7 são portadoras de Paralisia Cerebral de acordo com a pesquisa “Paralisia Cerebral e o impacto do diagnóstico para a família”. É consensual na comunidade científica que essa doença impõe desafios significativos no tratamento e desenvolvimento físico e cognitivo das crianças afetadas. O tratamento fisioterápico é essencial para estimular o progresso e a independência dessas crianças e uma das formas mais eficazes de estímulo é por meio do brincar.
Entretanto, a falta de brinquedos adaptados para suas necessidades específicas dificulta o engajamento dessas crianças nesse tipo de atividade. Pensando nisso, o Professor Juan de Aguiar, Coordenador do NUFPERPI, e sua equipe estão trabalhando no desenvolvimento de um acionador remoto que permitirá que os brinquedos comuns sejam facilmente adaptados e acessíveis a essas crianças.
O docente afirma que o aparelho vai possibilitar que qualquer brinquedo seja adaptado para atender as particularidades de cada criança. Com o auxílio desse dispositivo, as crianças poderão acionar os brinquedos e desfrutar da interação, estímulo e diversão que o brincar proporciona. Segundo ele, essa iniciativa vai trazer melhorias significativas em sua qualidade de vida, saúde e bem-estar emocional.
“O mais interessante de tudo é que já existem muitas associações de portadores de deficientes buscando a gente para a aquisição desses acionadores quando eles estiverem prontos, pois a maioria dos aparelhos já existentes custam uma fortuna e resulta que o acesso se limita a pessoas de alto poder aquisitivo. Atualmente, os Centros de Reabilitação do Estado não possuem esses acionadores, então, diante dessa realidade, a UESPI tem como principal propósito promover a disponibilidade desses dispositivos nos centros públicos, beneficiando diretamente crianças e pessoas de baixa renda”.
Conquista na pesquisa e inclusão social
O projeto foi um dos primeiros colocados no Edital específico da FAPEPI, sendo reconhecido como uma contribuição relevante na região Norte e Nordeste do Brasil. A ideia de doar os acionadores para essas associações reforça o caráter social do projeto, tornando-o um importante aliado na promoção da inclusão e igualdade de oportunidades, como explica a professora de Fisioterapia e Coordenadora do projeto, Olívia Mafra.
“Com o recurso desse edital que foi aprovado pela FAPEPI, nós vamos conseguir confeccionar, através da pesquisa, esse dispositivo que será entregue as crianças com paralisia cerebral na SOADF – Sociedade de Apoio ao Deficiente Físico, então, isso significa que com esse projeto nós vamos unir a ciência e a extensão em benefício para a comunidade”.
A instituição de pesquisa piauiense vai investir no projeto cerca de R$ 30 mil, valor que permitirá que a proposta alcance seu objetivo de proporcionar os materiais a pessoas de baixa renda, além da doação para associações públicas.
A Sociedade de Apoio ao Deficiente Físico (SOADF), uma instituição filantrópica, é responsável por atender uma média de 30 crianças, podendo variar essa quantidade, que possuem diversos tipos de comprometimento neurológico em diferentes graus. Essa população é constituída por pessoas carentes, que não pagam nada pelo atendimento e nem necessitam de guia do SUS.
O atendimento oferecido pela UESPI ocorre três dias na semana, especificamente às segundas, quartas e sextas-feiras. Já em outros dias da semana, outras instituições prestam atendimento com diferentes especialidades. Essa parceria entre a UESPI e a SOADF é essencial para garantir um cuidado abrangente e especializado às crianças que precisam, proporcionando-lhes uma oportunidade única de desenvolvimento e qualidade de vida.
A professora Ana Flávia Machado de Carvalho, representante da associação comenta que muitas vezes as crianças entendem e querem brincar, mas não conseguem devido às lesões. “A instituição ficará beneficiada e grata, uma vez que é uma entidade com muitas carências, e recursos desse tipo não são acessíveis à nossa comunidade. A SOADF ficará muito satisfeita com essa parceria”, afirma.