UESPI

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ

Inteligência artificial aplicada à promoção da saúde mental na Internet: projeto da UESPI é financiado pela FAPEPI

Por Vitor Gaspar

O professor Dario Calçada e o estudante Luiz Henrique, do curso de Ciências da Computação da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), desenvolvem uma pesquisa inovadora na área da saúde mental com a utilização de técnicas de inteligência artificial para a promoção da saúde mental na Internet.

O projeto é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI). A pesquisa foi realizada no Grupo de Estudo e Desenvolvimento de Aplicações Inteligentes (JEDI) da UESPI, em parceria com a obra social Luz da Esperança e a Universidade Federal do Delta de Parnaíba. 

O estudo conta com a participação de uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos, psiquiatras e cientistas de dados, sendo o financiamento da FAPEPI um fator fundamental do desenvolvimento do projeto. O principal objetivo é detectar sinais depressivos em mensagens no Twitter. Para isso, a equipe utilizou técnicas de processamento de linguagem natural e formação de redes complexas, aliadas ao aprendizado de máquina e teve como resultado a criação de uma base de dados em língua portuguesa, classificada com mensagens que indicam esse tipo de comportamento.

A base de dados identifica se a mensagem contém palavras como “tristeza”, “desespero”, “dor”, “sofrimento”, dentre outras. Existem até mesmo novas palavras que jovens burlam para falar se referir sobre isso, nos quais podem parecer mensagens aleatórias e sem sentido, mas que possuem o mesmo significado na linguagem atual da internet.

A ilustração mostra o passo a passo do processo que é analisado pelos pesquisadores

 

Um dos desafios enfrentados pelos pesquisadores foi adaptar as técnicas de inteligência artificial à língua portuguesa, que apresenta algumas peculiaridades em relação à fonomímica e sintaxe. Para superar esse obstáculo, a equipe contou com a colaboração de pessoas de outras universidades e desenvolveu uma técnica de análise de linguagem natural específica para esse tipo de análise.

De acordo com o Prof. Dr. Dario Calcada os resultados já foram aplicados em projetos práticos, como o desenvolvimento de um teclado de celular que identifica mensagens com esses indícios e envia um alerta para um amigo ou parente do usuário. Além disso, a base de dados já está disponível para outros pesquisadores, contribuindo para a continuidade dos estudos na área.

“A pesquisa representa um avanço importante na promoção da saúde mental, uma vez que permite detectar esses sinais antes que a situação se agrave. A prevenção é essencial para ajudar as pessoas a encontrar um caminho a favor da vida”, afirma o professor.

O sistema juntou todos os tweets lilases e começou a analisá-los para identificar quais contêm essa ideação e quais não contêm. O sistema separou os tweets em duas categorias, vermelho e azul. Os azuis são positivos para a ideação suicida, enquanto os vermelhos não contêm essa ideação. O gráfico já foi publicado e a técnica usada também foi documentada.

Segundo as estimativas do Unicef (braço da ONU para a infância), quase 16 milhões de jovens entre 10 e 19 anos têm algum transtorno mental, quantidade que equivale a 15% das pessoas dessa faixa etária. De acordo com o estudante Luís Henrique, que está no 8º bloco do curso de Ciências da Computação e desenvolve a pesquisa, o uso excessivo das novas tecnologias pode afetar negativamente a saúde mental, já que algumas comunidades na internet estimulam o aumento de estresse, ansiedade ou depressão nos adolescentes.

“É importante encontrar um equilíbrio saudável entre o uso da tecnologia e a saúde mental. O estudo que fizemos é essencial para entender as causas e os fatores de risco associados a esse comportamento e desenvolver estratégias eficazes de prevenção, já que essa é uma questão de saúde pública que pode ser prevenida com ajudas profissionais. A pesquisa também pode ajudar a identificar grupos de risco e a desenvolver programas de apoio específicos para esses grupos”, finaliza o estudante.

A psicóloga Rebeca Brito destaca que pesquisas como essa servem para contribuir com possíveis meios de prevenção e psicoeducação sobre o assunto, que ainda é visto como um tabu. Segundo ela, as mídias sociais são um espaço que pode influenciar na autoestima e na autoimagem de crianças e adolescentes, também afetando muitos adultos, sendo importante ter uma compreensão de suas experiências digitais e quanto elas podem estar afetando sua saúde mental, além do que é vivido fora das redes, como problemas sociais de desemprego, fome, problemas de imagem corporal e outros.

“Há muitas maneiras diferentes para as pessoas se comunicarem usando as redes sociais entre aqueles com comportamento suicida, estas ferramentas podem servir de meio para a disseminação de ideias, busca e troca de informações sobre o assunto de maneira equivocada o que poderia potencializar o reforço do comportamento suicida prejudicando a sua recuperação”, afirma.

Com esse projeto, a UESPI reafirma o seu compromisso com o desenvolvimento de soluções inovadoras para problemas sociais e a formação de profissionais capacitados para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.