Por Roger Cunha
Antônio Francisco Oliveira Rocha Filho, um estudante de 22 anos do curso de História da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), foi selecionado para participar do programa internacional Caminhos Amefricanos, uma iniciativa que visa promover a internacionalização acadêmica e o combate ao racismo. Membro do Núcleo de Estudos e Documentação em História, Sociedade e Trabalho (NEHST), Antônio tem se destacado em sua pesquisa sobre racismo ambiental, um dos principais focos de seu trabalho.
Orientado pela professora Drª Cristiana Costa da Rocha e coorientado pelo professor Me. Lucas Ramyro de Brito, Antônio desenvolve um estudo que se insere no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sua pesquisa concentra-se na história ambiental brasileira, com um olhar atento às questões do racismo ambiental.
A motivação de Antônio Francisco para estudar racismo ambiental surgiu de sua vivência como jovem negro morador de periferia. Ele menciona que sua comunidade é frequentemente impactada por problemas ambientais graves, como alagamentos, queimadas e empreendimentos que não consideram os resíduos gerados em seus processos. No início de sua trajetória acadêmica, não refletia sobre essas questões com profundidade, pois “num processo de naturalização, incorporava-as em meu cotidiano”.
No entanto, sua percepção mudou a partir de conversas e trocas de experiências com sua orientadora do Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID), a professora Drª Cristiana Costa da Rocha. Ele destaca que foi “somente a partir de conversas e trocas de vivências” com ela que se conscientizou sobre temas como História Ambiental e Racismo Ambiental. Através dessas discussões, Antônio compreendeu que esses problemas ambientais não eram isolados, mas estavam diretamente relacionados às desigualdades sociais e raciais.
Com essa nova perspectiva, ele decidiu se aprofundar no tema e, juntamente com sua orientadora, “nos propusemos a somar esforços e submetemos no mesmo ano um projeto de pesquisa no Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC), aprovado com financiamento desta IES em 2022”. Assim, sua formação em História e suas vivências pessoais se entrelaçaram, dando origem a uma pesquisa focada na relação entre racismo e meio ambiente, buscando discutir a luta por justiça climática.
Após o início do projeto de Iniciação Científica, Antônio se integrou ao NEHST, coordenado pela professora Cristiana Costa e coorientado pelo Me. Lucas Ramyro de Brito. O projeto envolveu visitas a órgãos e entidades da sociedade civil, além de atividades de digitalização de fontes e organização de acervos digitais. Essas ações foram fundamentais para alcançar os objetivos da pesquisa, que visava o levantamento de fontes para a História Agrária da Região do Meio-Norte e, posteriormente, para a investigação sobre as enchentes na mesma região.
De acordo com a Professora Cristiana Costa, “além de contribuir para o combate e a superação do racismo no Brasil, um dos objetivos do programa Caminhos Amefricanos, é importante para estimular a inclusão de nossos estudantes em projetos que possibilitam a internacionalização”.
Entre os principais achados, ele destaca a riqueza das fontes encontradas, que trouxeram informações valiosas sobre o cenário ambiental no Piauí e Maranhão. “A documentação encontrada foi rica em apresentar os aspectos do cenário acerca do meio ambiente no Piauí e Maranhão […] e a conjuntura de tensões que ultrapassavam as expectativas iniciais”. As fontes, localizadas em acervos como o do Centro Piauiense de Ação Cultural (CEPAC) e do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), além da bibliografia indicada pela professora Cristiana, permitiram uma análise mais aprofundada dos conflitos socioambientais que atravessam a sociedade contemporânea.
Outro aspecto importante foi o compartilhamento dos resultados parciais e finais em eventos acadêmicos, congressos e seminários, o que, segundo Antônio, “foi de suma importância para que pudéssemos aprimorar as discussões e nos situarmos num debate nacional e, agora, internacionalizarmos nossa pesquisa também”. Esses eventos possibilitaram o refinamento das conclusões e a ampliação das perspectivas, levando a pesquisa para um nível de reconhecimento internacional.
A professora Doutora Cristiana Rocha acredita que o programa Caminhos Amefricanos terá um impacto significativo na conscientização sobre racismo e história ambiental entre os estudantes, especialmente pela aplicação prática das pesquisas que Antônio desenvolve na universidade. Seu projeto envolve intercâmbios em Cabo Verde e na Colômbia, buscando integrar a história ambiental com discussões sobre racismo e valorizando a tradição oral como uma metodologia central. Sob orientação da professora Cristiana, Antônio é incentivado a aplicar suas descobertas acadêmicas em futuras práticas docentes, com o objetivo de “instigar em meus futuros alunos que questionem o meio em que estão, as mazelas que os cercam e as questões que os provocam diariamente”.
O discente acredita que o Piauí, e mais especificamente Teresina, por ser uma região com forte presença de comunidades tradicionais e uma economia baseada em atividades do setor primário, oferece um cenário ideal para reconhecer e valorizar essas culturas, especialmente a tradição oral. “Desejo reconhecer e valorizar esses sujeitos, juntamente com suas culturas, como a tradição da Oralidade também na centralidade”, afirma. Ele vê a metodologia da História Oral como uma ferramenta poderosa para dar voz a essas comunidades, ajudando a preservar e transmitir seus conhecimentos.
A participação no intercâmbio em Cabo Verde é especialmente significativa para Antônio, pois o continente africano é conhecido por sua “tradição viva”, onde a história oral tem um papel central na preservação e transmissão de saberes. “Adeptos da metodologia da História Oral, desejo obter novos aprendizados, ensinamentos e técnicas no intercâmbio para Cabo Verde”, ressalta. Ele acredita que essas novas técnicas e ensinamentos aprimorarão sua capacidade de aplicar a História Oral em suas práticas docentes e em futuros projetos de pesquisa, enriquecendo sua compreensão sobre as relações entre cultura, racismo e meio ambiente.
Ao combinar a conscientização sobre racismo ambiental com a valorização da tradição oral, Antônio espera que os estudantes passem a refletir criticamente sobre as injustiças ambientais e sociais que os cercam, enquanto desenvolvem um respeito mais profundo pelas culturas tradicionais. Esse processo de conscientização é visto como uma forma de transformação, tanto no ambiente educacional quanto na sociedade, ao trazer à tona as experiências e histórias muitas vezes marginalizadas.
Antônio Francisco compartilha que sua reação ao ser selecionado como o único representante do Piauí para o programa Caminhos Amefricanos foi de grande felicidade. Ele destaca que a ansiedade aumentou com os adiamentos do resultado final, inicialmente previsto para agosto, mas que só foi publicado no dia 8 de outubro. “Tomei conhecimento no dia seguinte e comemorei bastante com toda minha família e namorado”, conta. Após compartilhar a notícia com seus entes queridos, comunicou sua orientadora e coorientador.
Ser o único selecionado do Piauí tem um significado especial para Antônio, não apenas como uma realização pessoal, mas também como uma responsabilidade de incentivar outros estudantes a participar de futuras edições do programa. “Me instiga a, em próximas edições, colaborar com amigos de curso e da instituição para que participem do processo de seleção do programa e aumentemos nossa presença piauiense no quadro de participantes”, afirma. Ele enxerga essa conquista como uma oportunidade de abrir portas para mais colegas, contribuindo para aumentar a representatividade do Piauí em intercâmbios acadêmicos internacionais.
Além disso, vê o programa como uma chance de promover práticas docentes que abordem questões raciais e incentivem a superação do racismo na educação. Ele valoriza a troca de experiências de vida e de pesquisa que o intercâmbio proporciona, destacando como isso contribuirá para seu aprimoramento acadêmico e pessoal. “Nos aprimorando de forma significativa, tendo a oportunidade de apresentar nossa pesquisa em instituições de ensino superior ao redor do mundo”, conclui, enfatizando a dimensão internacional do programa e o impacto positivo que espera alcançar ao compartilhar suas descobertas com uma audiência global.
Ele reconhece que o apoio do PIBIC e o financiamento do CNPq foram fundamentais para a realização de seu projeto em 2023. Ele destaca que, sem esse suporte, a viabilidade do trabalho estaria comprometida, tanto em termos práticos, como os deslocamentos necessários para acessar os acervos em diferentes órgãos, quanto na participação em eventos acadêmicos em outros estados e cidades. “Sem o apoio do PIBIC e financiamento do CNPq na proposta de 2023, a viabilidade do projeto estaria comprometida”, afirma.
Além disso, ele menciona o importante apoio do Grupo Equatorial, que também contribuiu para a realização da pesquisa. A combinação desses esforços permitiu uma ampliação das análises e contribuições do projeto, refinando os resultados que seriam compartilhados com a comunidade acadêmica. Antônio destaca que essas parcerias foram essenciais para o sucesso da pesquisa e para garantir que o projeto tivesse impacto e alcance maiores. Ele acredita que sua participação no programa Caminhos Amefricanos terá um impacto significativo em sua trajetória acadêmica e profissional. Vê essa oportunidade como fundamental para sua formação, já que permitirá um contato direto com as práticas desenvolvidas na Universidade de Cabo Verde (UniCV) e suas interlocuções. “Conseguir participar desta edição do Programa será de suma importância para minha formação”, conclui.