Por Giovana Andrade
Mayson Laércio de Araújo Sousa, egresso do curso de bacharelado em Fisioterapia da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) , campus de Teresina, é mais um entrevistado do quadro “Da Uespi para o mundo”.
O egresso Mayson Sousa, ingressou na Uespi em 2007, aos 16 anos. Oriundo de José de Freitas e filho de pais comerciantes, hoje se destaca internacionalmente. Atualmente, faz pós-doutorado na Universidade de Toronto, no Canadá, e, coordena pesquisas de ventilação mecânica em modelos animais de lesão pulmonar, sobre a supervisão direta do Dr Brochard.
Ascom: Conta um pouco sobre sua trajetória de vida, de onde você vem, quais dificuldades enfrentou até entrar no curso e depois dele?
Tenho 33 anos e sou natural de José de Freitas – Piauí. Meus pais são comerciantes, sem formação superior, mas sempre entenderam e defenderam a importância da educação em nossas vidas. Fiz todo o meu ensino fundamental e médio em José de Freitas, em uma época sem tanto desenvolvimento tecnológico quanto hoje, então as minhas maiores fontes de conhecimento científico até aquele momento foram meus professores e os livros (escolares e da biblioteca pública).
Acredito que a principal barreira para eu conseguir entrar no curso superior foi o baixo desenvolvimento socioeconômico, tecnológico e cultural, da minha cidade na época. Depois do curso, as principais barreiras foram, e ainda são, um mercado de trabalho muito competitivo e a pouco valorização da profissão.
Ascom: Fisioterapia sempre foi o curso dos seus sonhos?
A Fisioterapia não foi sempre o curso dos meus sonhos. Quando eu era criança eu queria ser professor, eu queria “ensinar” / “levar conhecimento” às pessoas. Mas com o passar dos anos, começou a crescer em mim um desejo de trabalhar na área da saúde, de cuidar das pessoas. Enquanto eu estava no ensino médio, fui avaliando as possibilidades, pesquisando e conversando com os meus professores, e optei pelo curso de Fisioterapia.
Na primeira semana do curso, fomos recebidos pelos alunos veteranos do curso de Fisioterapia em uma “Semana do Calouro”, na qual tivemos palestras de vários ex-alunos da UESPI, que trabalhavam em diversas especialidades da Fisioterapia. Naquela semana, eu tive certeza de que tinha feito a escolha certa e a Fisioterapia em Terapia Intensiva e Cardiorrespiratória se tornou um sonho para mim.
Ascom: Alguma situação marcou você dentro da UESPI?
Acredito que o que mais me marcou dentro da UESPI é sentimento de fazer parte de uma família, que desenvolvemos com os outros alunos e com os professores. Como falei anteriormente, a recepção na Semana do Calouro me marcou muito, de tal forma que logo no segundo semestre já entrei para o centro acadêmico. Queria participar mais ativamente do curso, estreitar os laços com os outros alunos e fazer com que todos se sentissem parte de uma família, como eu me sentia. Lembro com muito carinho de todos os novos alunos que recebemos nos anos seguintes.
Ascom: O que lembra com saudades da época como aluno da UESPI? E dos professores?
Como aluno, uma das coisas que mais sinto saudades são as conversas com os meus colegas de curso, das trocas de experiências, tanto pessoais quanto do processo de aprendizagem em si.
Em relação aos professores, lembro com saudades das aulas, de aprender coisas novas com eles e de ficar encantado com a paixão com que eles nos ensinavam. Uma parte importante da minha paixão pela profissão, força de vontade e determinação vem deles.
Ascom: Após a conclusão do curso, você seguiu para o mestrado? Onde foi?
Após a conclusão do curso, fui aprovado como bolsista para o curso de Aprimoramento e Especialização em Fisioterapia Cardiorrespiratória em São Paulo, em 2012, no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O curso de aprimoramento foi muito importante para a minha formação profissional. Com uma carga horária grande (cerca de 38h semanais), bem distribuída entre estágios e aulas, durante um ano, eu desenvolvi muito minhas habilidades fisioterapêuticas assistenciais. Depois do curso, prestei concurso e fui convocado para trabalhar com fisioterapeuta no InCor, onde permaneci por 8 anos.
Não fiz mestrado após o curso de aprimoramento, fui direto para o doutorado.
Ascom: E o pós-doutorado no Canadá? Por que a Universidade de Toronto foi atrativa para você?
No mesmo período em que trabalhei como fisioterapeuta no InCor, fiz Doutorado em Ciências na Universidade de São Paulo, pela divisão de Pneumologia. Após o aprimoramento, eu decidi que queria estudar ventilação mecânica e comecei a procurar por pesquisadores nessa área, até que cheguei à Profa. Dra. Juliana Ferreira e acompanhei as pesquisas dela por dois anos. Desenvolvi o meu projeto de doutorado nesse período, em assincronia paciente-ventilador, e me matriculei como aluno de doutorado em 2016. Durante o doutorado, além da excelente formação acadêmica, tive a oportunidade de fazer muitas colaborações e trabalhar com pesquisados renomados mundialmente, como o Prof Dr Robert Kacmarek, com quem passei um tempo na Universidade de Harvard e que me auxiliou no processo de análise de dados e escrita das minhas primeiras publicações.
Atualmente faço pós-doutorado na Universidade de Toronto, no Canadá. O principal atrativo para mim foi o Laboratório de Fisiologia Respiratória do Departamento de Medicina Intensiva, liderado pelo Dr Laurent Brochard, que é um dos maiores pesquisadores em ventilação mecânica e insuficiência respiratória no mundo. Apliquei para uma posição de pós-doutorado e fui aprovado em 2020. Hoje eu coordeno pesquisas de ventilação mecânica em modelos animais de lesão pulmonar, sobre supervisão direta do Dr Brochard.
Ascom: Quais as metas, objetivos e sonhos que você almeja a partir de agora pensando em seu futuro?
Meu sonho é ser líder e referência na área nas áreas de Fisiologia Respiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva/Cardiorrespiratória. Meu objetivo é ser um professor universitário e um pesquisador altamente produtivo. Eu quero combinar habilidades sólidas de ensino e aprendizagem com inovação em pesquisa, desenvolvendo a próxima geração de cientistas e fisioterapeutas e melhorando a formação acadêmica dos profissionais de saúde e os desfechos clínicos e qualidade de vida dos pacientes.
Ascom: Gostaria que destacasse ao final, a importância que a Universidade Estadual do Piauí tem para a sua vida e como ela contribuiu para onde você chegou até hoje.
A Universidade Estadual do Piauí foi de extrema importância para o desenvolvimento da minha carreira, ela me proporcionou uma boa base de conhecimento científico e raciocínio crítico que foram e são fundamentais em todas as atividades que venho desenvolvendo até hoje enquanto Fisioterapeuta, Cientista e Cidadão.