Por Vitor Gaspar
Pesquisas do curso de Bacharelado em Jornalismo da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) foram apresentadas no 46º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação da Intercom, com estudos que abordam questões relevantes da comunicação contemporânea.
Entre estudantes, professores e alguns recém formados, as pesquisas da UESPI apresentaram artigos e análises de comunicação sobre temas diversos, como representação LGBTQIAP+ , o uso da netnografia como tecnologia social, o impacto do metaverso na mídia webjornalística piauiense, os 200 anos da Batalha do Jenipapo, dentre outros pontos.
A maior parte dos projetos é fruto dos programas de pesquisas ofertados pela universidade como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI). E para falar sobre isso o Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação (PROP), Rauyris Alencar, destaca os investimentos em pesquisa da UESPI que têm sido ampliados ano a ano, o que representa mais recursos para pesquisa, principalmente, para a iniciação científica e tecnológica. Isso se traduz em valores na ordem de 1.092.000 reais anuais com recursos próprios da UESPI, provenientes do Tesouro Estadual.
Além disso, o professor afirma que a Universidade conta com recursos próprios do tesouro estadual, além de aproximadamente 571.200 reais anuais provenientes do CNPQ para investir em iniciação científica e iniciação tecnológica, bem como com a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI), que disponibiliza recursos na ordem de 252 mil reais anuais. Esse montante representa investimentos significativos em iniciação científica e iniciação tecnológica, totalizando cerca de 1.915.200 reais anuais.
“Esses investimentos têm gerado resultados extraordinários, com discentes mais bem preparados para se envolverem na pesquisa, como evidenciado na última edição do Intercom. Esse é um reflexo direto dos investimentos, resultando em maior produção científica e na melhoria da qualidade das pesquisas realizadas. Esses resultados destacam não apenas a universidade, mas também o perfil dos alunos e ex-alunos que formamos na UESPI”.
Esse é o maior congresso de Comunicação do hemisfério Sul que acontece desde 1977 e reúne, tradicionalmente, cerca de 3,5 mil pessoas, entre alunos de graduação e pós-graduação, pesquisadores e profissionais da área. No evento são debatidos tópicos de jornalismo, relações públicas, publicidade, rádio, televisão, cinema, produção editorial e de conteúdo para mídias digitais e políticas públicas de Comunicação, entre outros.
Em 2023, a sede foi Minas Gerais e esta edição contou com uma etapa remota, realizada entre os dias 29 e 31 de agosto de 2023, onde os pesquisadores da UESPI participaram, e uma etapa presencial , entre os dias 05 e 08 de setembro de 2023, na Pontifícia Universidade Católica de Minas – PUC Minas – Campus Coração Eucarístico, em Belo Horizonte, com o tema central “Comunicação e políticas científicas: desmonte e reconstrução”.
Linhas de pesquisas variadas:
Na UESPI, o curso de Jornalismo é oferecido nas cidades de Teresina e Picos, onde os professores se envolvem ativamente em pesquisas junto aos estudantes, explorando uma ampla gama de temas.
Um exemplo é o Prof. Dr. Orlando Berti, que tem pesquisa sobre temas relacionados a tecnologia, comunicação digital e redes sociais. O professor costuma explorar a aplicação da netnografia como uma ferramenta para entender e analisar o comportamento online das comunidades, bem como o papel crescente do metaverso na mídia webjornalística piauiense, que utiliza estratégias de crossmedia.
“Atualmente, trabalhamos com tecnologias atuais, incluindo a inteligência artificial, e aplicamos perspectivas legadas em tecnologias sociais para poder oferecer novas respostas nas mediações informacionais. As pesquisas deste ano estão voltadas para questões relacionadas a essas perspectivas, abrangendo tanto as mediações jornalísticas, quanto as tecnologias associadas a elas, bem como questões relevantes para a sociedade em geral”, afirma o professor Berti.
Uso da Netnografia em Tecnologia Social
Nariani de Sousa Lopes Rodrigues, egressa do campus Torquato Neto, investigou “O uso da Netnografia em um experimento de tecnologia social”. A pesquisa explorou como a netnografia, uma abordagem de pesquisa online, pode ser aplicada para entender questões sociais e tecnológicas em nossa sociedade digital.
A pesquisa de trata de um recorte dos seus estudos no TCC e fala sobre a possibilidade do uso das tecnologias da comunicação que são utilizadas para promover a solidariedade no Piauí no contexto da pandemia da COVID-19. São experimentações que fez em um perfil do Instagram, desde 2021, e que recebeu apoio da UESPI e do CNPq. A pesquisa permitiu a estudante contribuir com a produção acadêmica, ao passo que conseguiu criar uma rede de pessoas e instituições que tenham em comum o desejo de ajudar o próximo.
Um estudo netnográfico é uma abordagem de pesquisa que se concentra na observação e análise da interação das pessoas em comunidades online, fóruns, grupos de redes sociais e outros espaços virtuais. Esse método de pesquisa visa compreender os comportamentos, as dinâmicas sociais, as práticas culturais e as interações das pessoas em ambientes digitais.
“É uma satisfação produzir pesquisas que pensem a comunicação mais cidadã e interligada com o coletivo. Sinto que estou contribuindo com um mundo melhor através do que eu mais amo fazer, que é pesquisar. Já é a segunda vez que trago a temática para o Intercom e é sempre um prazer falar do Piauí para um evento nacional e de grande visibilidade para os estudantes de comunicação. Todos os grupos de trabalho possuem avaliadores de peso, que realmente trazem comentários e sugestões agregadoras aos projetos de pesquisa produzidas no Brasil inteiro. Saio sempre cheia de ideias e instigada a produzir pesquisas na área”.
Conscientização na Rede Hospitalar
Anny Santos, estudante do curso em Teresina, estudou “A Rede Estadual Hospitalar do Cuidar da COVID-19: Análise do Instagram dos Maiores Hospitais Públicos de Cada Território de Desenvolvimento do Piauí em 2022″.
O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI), por meio de bolsa PIBIC, e analisa como as instituições hospitalares de cada um dos 12 territórios de desenvolvimento do Piauí utilizaram seus perfis no Instagram para conscientizar, esclarecer e alertar a população sobre questões pandêmicas. O artigo é o desdobramento da pesquisa que vem sendo realizada desde 2021, sob a orientação do prof. Orlando Berti, sendo o segundo a ser publicado nos anais da Intercom.
“Acredito que é fundamental enfatizar a relevância de incentivar a pesquisa científica e de representar nossa instituição em um congresso nacional de comunicação. Me sinto feliz, pois além de ser algo que eu amo, a pesquisa científica desempenha um papel crucial no avanço do conhecimento. Investir em estímulos à pesquisa e na representação da nossa instituição em eventos científicos é essencial para o crescimento intelectual e a projeção da nossa instituição no cenário acadêmico”, pontua a estudante do 7º bloco.
Pós-Pandemia: “Rede Piauí Sem Covid”:
Maria Clara Guimarães, investigou “A ‘Rede Piauí Sem Covid’ dois anos depois. Consequências pós-pandêmicas nas atuações em combater a Covid-19 via Instagram”.
Ela conduziu uma pesquisa abrangente de mais de dois anos, dando continuidade aos estudos iniciados anteriormente sobre a Rede Piauí Sem Covid, fruto do projeto do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da estudante Yasmin Cunha. Seu trabalho explorou a eficácia do Instagram como ferramenta de comunicação durante a pandemia de COVID-19, enfocando aprimoramentos na vigilância em saúde e na comunicação em momentos de crise. A pesquisa, baseada em teorias de comunicação de autores como Nelson Traquina, Nestor Garcia, e Pierre Bourdieu, além dos insights do professor Orlando Berti, abordou o fenômeno da comunicação em situações de emergência de saúde pública.
Clara também observou as reações do público às postagens da Rede Piauí Sem Covid ao longo de dois anos, destacando a importância contínua da conscientização sobre a vacinação, mesmo após a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter reclassificado a COVID-19 como uma emergência de saúde pública. Seu trabalho contribui para a reflexão sobre os impactos de mais de dois anos de convivência com a doença e reforça a relevância da comunicação em tempos de crise sanitária.
“A pesquisa científica foi muito decisiva na minha vida, não só porque isso melhorou meu currículo, mas também porque vai ser uma porta de entrada para muitas oportunidades que virão. O estudo me mostrou o quanto o uso do Instagram foi bem-sucedido, principalmente porque ele aprimorou a vigilância em saúde e na comunicação não só durante a pandemia mais também em outras possíveis emergências de saúde pública. A partir dessa visão, eu pude compreender as transformações e os desafios enfrentados pelos profissionais durante a crise e também pretendo, de certa forma, contribuir para que mais pessoas entendam todo o contexto disso no nosso estado”.
Gamificação, Jornalismo e Inovação
Lara Silva, egressa do curso de Jornalismo, adentrou o mundo da gamificação com o projeto “Gamificação, jornalismo e inovação. O caso do MINP”. A pesquisa investigou como elementos de jogos podem ser incorporados ao jornalismo para engajar o público.
O MINP é um site imersivo e gamificado sobre a pandemia de Covid-19, e a pesquisadora buscou uma linha temporal desde o surgimento do vírus até a chegada das vacinas.
O estudo surgiu como resultado do seu TCC, no qual explorou três eixos fundamentais que permeiam o jornalismo contemporâneo. O primeiro deles diz respeito aos impactos da pandemia no campo jornalístico. O segundo eixo se concentra na inovação no jornalístico e o terceiro trata do uso da gamificação como uma estratégia para inovar e enfrentar desafios, como questões de credibilidade e engajamento do público.
A gamificação é uma estratégia que consiste em aplicar elementos e mecânicas de jogos em contextos que não são jogos em si. Essa abordagem visa envolver e engajar as pessoas de maneira mais eficaz em uma variedade de atividades e processos e ao trazer esses elementos para o jornalismo, pode se revelar uma ferramenta valiosa para enfrentar crises e manter a atenção dos leitores.
“É gratificante essa troca de experiências com outros pesquisadores, principalmente por ter contato com temas tão diferentes e que ao mesmo tempo conversam entre si. Essa pesquisa já teve a oportunidade de participar de vários Congressos, mas o Intercom é muito especial pela proporção e a importância dele para o jornalismo brasileiro”.
Facebook como Meio de Comunicação
Mara Cavalcante questionou se “O Facebook vai acabar? Quando a rede de Mark Zuckerberg mostra-se como principal meio de comunicação de uma cidade em plena terceira década do século XXI”. A pesquisa explorou como o Facebook continua a ser uma plataforma crucial de comunicação em nossa era digital.
Natural de Monsenhor Gil, uma cidade com pouco mais de 100 mil habitantes, localizada a 56 km de Teresina, Mara identificou o papel crucial desempenhado pelo Facebook na mediação da comunicação entre os moradores. Em cidades maiores essa dinâmica pode passar despercebida, mas em localidades menores, como Monsenhor Gil, essa influência se torna relevante. Seu objetivo foi contribuir para a identificação de lacunas na comunicação e na produção de informações, bem como para o aprimoramento do uso das plataformas digitais como ferramentas de comunicação, fortalecendo, assim, a comunicação comunitária de maneira abrangente.
Os objetivos da pesquisa envolveram a compreensão dos fluxos comunicacionais em Monsenhor Gil, a análise dos conceitos de comunicação popular e comunitária em meio aos fluxos informacionais do Facebook, a investigação dos conteúdos em circulação e a avaliação da importância dessa plataforma na divulgação de informações no município e seu impacto na vida social da comunidade.
“Quanto ao evento, foi uma experiência maravilhosa. Foi a primeira vez que participei e tive a oportunidade de conhecer pesquisas incríveis de vários lugares do Brasil, e também de compartilhar os resultados do meu trabalho para mais pessoas, o que é muito importante, pois, participando de eventos assim, a gente contribui com a comunidade acadêmica e promove o avanço de mais pesquisas. E quem sabe, mais pessoas se interessem por questões relacionadas ao Facebook e comunicação comunitária na atualidade”, afirma.
Linha de pesquisa: Jornalismo e Semiárido
Em Picos, a docente Lana Morais segue a linha entre jornalismo e semiárido, enfocando a redefinição positiva desse território rico em diversidade e potencialidades, além de investigar políticas públicas, tecnologias, educação contextualizada e manifestações culturais locais.
A professora afirma que nos estudos estão sempre contextualizados às características do território, além de produções voltadas para as tradições, manifestações culturais e história. Segundo ela, o processo de redefinição do pertencimento, ou seja, olhar com novos olhos para o semiárido, passa pela compreensão de suas características, história e potencialidades.
“Levar essas pesquisas para congressos como o Intercom (Nordeste e Nacional) faz parte desse processo. A divulgação das pesquisas realizadas na Uespi de Picos tem contribuído muito para o debate entre jornalistas e pesquisadores sobre as representações construídas ao longo da história sobre o semiárido brasileiro”.
Apicultura e Identidade Cultural
Lia Barbosa, orientada por Lana Morais investigou “A apicultura como aspecto de memória coletiva e identidade cultural na cidade de Picos–PI: da família Wenzel à Casa Apis”.
Ela conta que a construção de sua pesquisa foi um processo que levou aproximadamente um ano, iniciando em julho de 2021 e culminando com sua formatura em 2022. O objetivo desse trabalho inicialmente era a criação de um livro-reportagem no formato de ebook.
A pesquisa se concentrou em temas relacionados à memória, história e identidade cultural, particularmente em relação a Picos, conhecida como a “capital do mel”. Para embasar seu estudo, a egressa afirma que usou referências de autores que explorassem esses tópicos, coletando relatos de pessoas locais que estiveram envolvidas na história que analisou.
“Durante esse período, compilei todas as informações e criei uma linha do tempo, um elemento crucial para o sucesso do meu projeto. Tive também a oportunidade de interagir com a família Wenzel, sobre a qual escrevi a história. Me aprofundei consideravelmente no universo da pesquisa, conduzindo entrevistas com várias pessoas envolvidas, embora não tenha sido possível entrevistar todos devido à complexidade do tema. Além disso, tive acesso a documentos antigos, que desempenharam um papel fundamental no meu trabalho”.
Linha de pesquisa: Comunicação, saúde e história
A linha de pesquisa da professora Sônia Carvalho examina a convergência entre comunicação, saúde e história, com foco nas representações de saúde e doença nos meios de comunicação. Nesta apresentação no Intercom, foi compartilhada parte de sua pesquisa de doutorado, concentrando-se nas representações das mulheres consideradas “loucas” e na visibilidade das pessoas com problemas de saúde mental nos meios de comunicação, com destaque para a análise da Revista Cruzeiro.
Também foi apresentado um estudo sobre a série de reportagens “Um Vírus e Duas Guerras” produzida pela mídia independente. A pesquisa abordou uma questão social relevante: a situação das mulheres vítimas de violência durante a pandemia, quando muitas delas ficaram confinadas em casa com seus agressores devido aos protocolos de segurança. Foram analisados quatro meses dessa série em duas mídias independentes, a Agência Amazônia Real e a Eco Nordeste.
Outra realização foi a análise da abordagem da grande mídia, mais especificamente do Jornal Estado de São Paulo, sobre a polêmica do uso medicinal da cannabis. “Este trabalho foi desenvolvido em parceria com a Emilly Alves, que obteve a nota máxima em seu TCC na UESPI. Ficamos satisfeitas em apresentar conjuntamente esse estudo, onde Luna foi a autora principal e eu, na qualidade de orientadora, contribuí como co-autora”.
A professora também falou sobre a satisfação em ver os projetos que nasceram na UESPI recebendo prestígio nacionalmente. “É com imensa alegria que nós, como docentes, compartilhamos nossos trabalhos em eventos acadêmicos. Esse sentimento vai além da publicação nos anais deste que é o maior evento de comunicação do Brasil e da América Latina. Acreditamos profundamente no poder da pesquisa como ferramenta de transformação social, e entendemos que os professores não precisam caminhar nessa jornada sozinhos”.
Objetividade x subjetividade no Jornalismo
Vitória Pilar, egressa, orientada por Sônia Carvalho, realizou a pesquisa: “Um Vírus e Duas Guerras: quebra do mito da objetividade jornalística na pauta da mídia independente sobre Covid-19 e violência contra à mulher”.
A pesquisa investiga como a objetividade jornalística, que geralmente é considerada um pilar do jornalismo tradicional, pode ser desafiada ou questionada quando se trata da cobertura de eventos complexos e sensíveis, como a pandemia de Covid-19 e a violência de gênero.
Concentrando as produções e publicações de cinco mídias independentes durante a pandemia, ela aborda os desdobramentos sociais provocados pela pandemia em relação às violências domésticas contra as mulheres. A série analisada, “Um Vírus e Duas Guerras”, foi publicada por cinco diferentes veículos: o portal Catarinas, o Ponto de Jornalismo, o Projeto Colabora, a Agência Econordeste e a Amazônia Real.
A escolha dessa série foi baseada em critérios de representatividade, diversidade e originalidade, onde a pandemia é tratada como um elemento contextual, um “personagem” que não é o foco central, mas que influencia os desdobramentos abordados. “Um Vírus e Duas Guerras” discute a guerra contra a Covid-19, como uma crise sanitária, e a guerra contra a violência contra as mulheres, que ocorreu durante os períodos mais críticos da pandemia.
A pesquisa analisou cerca de 14 matérias publicadas por essas mídias independentes ao longo de 2020, com foco nos primeiros e segundos semestres devido à ênfase das tragédias causadas pela pandemia nesses períodos. Além de abordar questões sociais importantes, o estudo também investiga a produção de um jornalismo cada vez mais multimídia, que incorpora texto, vídeo, fotografia e áudio, refletindo os rumos do jornalismo web.
“A pesquisa já tem quase três anos ainda serve como objeto de entendimento para um período que foi tão crítico e decisivo para a humanidade. Trabalhos como esses ajudam a gente a entender as questões complexas dos nossos tempo, mas principalmente entender como o jornalismo e suas estratégias se comportam meio á crises – sejam elas humanitárias, sanitárias ou políticas”.
Percursos da Loucura na Mídia
Maria do Socorro de Moura, orientada pela Profa. Sônia Carvalho, pesquisou os “Percursos da Loucura: da Sucursal do Inferno na Revista O Cruzeiro (1961) às narrativas jornalísticas que dizem dos loucos de todos nós”.
A discente conta que estudou, especificamente, a reportagem especial intitulada “Hospício de Barbacena – Sucursal do Inferno,” publicada na edição n° 31 da Revista O Cruzeiro, datada de 13 de maio de 1961 e escrita pelo repórter José Franco. Nosso foco está na análise dos aspectos do jornalismo envolvidos na abordagem do tema da loucura, bem como nas questões de gênero relacionadas a essa reportagem.
“A importância reside em trazer, de forma mais frequente, a temática da loucura para o debate público. Além disso, buscamos refletir sobre como a prática jornalística se relaciona com nossa realidade, compreendendo como a figura do louco é inserida na sociedade como um ser humano individual e coletivo. Nossa intenção é contribuir para os debates públicos, examinando como os textos jornalísticos nomeiam os indivíduos considerados portadores de transtornos mentais e como essas representações influenciam a percepção da sociedade sobre o tema”.
Repensando narrativas jornalísticas
Emilly Alves, sob orientação de Sônia Carvalho, realizou a pesquisa: Entre o Tabu e a Transformação: reconstruindo as narrativas sobre a restrição da cannabis medicinal no jornal O Estado de São Paulo em 2022.
A pesquisa foi um recorte de seu TCC, uma monografia, que teve como tema cannabis e imprensa. O objetivo do trabalho foi entender o posicionamento do jornal diante do tema, como foi abordado pelos repórteres e como essas narrativas veiculadas pelo jornal podem, em última instância, contribuir para a construção sócia de significados acerca da planta.
“Por ser considerado um tema polêmico, falar sobre cannabis, especialmente no meio científico e acadêmico, pode ser considerado uma transgressão do senso comum. Ao meu ver, é muito importante densificar esse tema, tendo em vista que ele perpassa por diversas camadas sociais, políticas e econômicas. Falando como recém formada em jornalismo pela Uespi, foi muito significativo participar pela primeira vez do Intercom e falar sobre esse tema, representando o Piauí e nossa universidade”.
Comunicação para a transformação social
Flávio Menezes Santana, docente do campus de Picos, trabalha desde o mestrado com a perspectiva da Comunicação para a transformação social, ou seja, pensar a comunicação como uma ferramenta de mudança e socialmente mais comprometida com a sociedade. Cita como exemplo disso são as perspectivas da Comunicação comunitária, alternativa e popular e da Folkcomunicação.
A primeira ideia parte de uma mobilização comunitária em que os sujeitos de uma determinada comunidade atua na produção jornalística em canais de comunicação, como jornais de bairros e rádios comunitárias, em prol da cidadania. Em outras palavras, é um jornalismo mais comprometido que pode prestar serviços à comunidade na transmissão de informações da localidade que visem o exercício da cidadania.
Já a segunda, por sua vez, busca reconhecer e legitimar as práticas de comunicação artesanal do povo baseada, muitas vezes, na cultura local, como é o caso do cordel e outras manifestações populares que representam formas questionamento de resistência.
Na Uespi, tem trabalhado com essa linha no grupo de pesquisa “Comunicação, Ação e Transformação (ComTransformAção)” e no projeto de Pibic financiado pela FAPEPI intitulado “Comunicação para a transformação do bairro Morada do Sol a partir da Folkcomunicação e da Comunicação Comunitária”, que desenvolve com sua orientanda Ana Vanessa Torres.
Neste trabalho, que foi apresentado pelo docente de forma presencial em Minas, eles analisaram como os portais de notícia da cidade de Picos tem noticiado o bairro Morada do Sol para avaliar como a mídia tem contribuído no processo de marginalização social da localidade.
“Constatamos que essa mesma mídia tem responsabilidade na exclusão e na marginalização do bairro e, portanto, não pratica um jornalismo comprometido com a cidadania e apresentar esse trabalho no Intercom permite que articulemos melhor nosso projeto, através da contribuição das discussões do grupo, além de contribuir com o avanço das pesquisas das Ciências da Comunicação no Brasil e dar respaldo a nosso trabalho, que tem sido essencial para pensar em um sociedade mais justa e socialmente mais comprometida”.
A discente, Ana Vanessa Torres complementa que a pesquisa parte do princípio de que a Folkcomunicação e a Comunicação Comunitária têm um papel relevante na promoção de uma visão crítica da sociedade. Segundo ela, cada comunidade possui sua maneira única de se comunicar, com expressões e vivências intrínsecas a sua realidade, porém, frequentemente, essas particularidades culturais das comunidades à margem da sociedade são negligenciadas pela mídia convencional.
“Eu estou extremamente feliz em participar do projeto e ser orientanda do professor Flávio Menezes, que desenvolve um papel fantástico na UESPI de Picos, e ainda mais feliz de ter um artigo sendo apresentado no Intercom, dando visibilidade à importância do nosso projeto, à Universidade Estadual do Piauí e à FAPEPI também. Infelizmente, não puder ir ao evento, mas estou torcendo e enviando energias para o professor Flávio, sei que dará tudo certo. O ComTransFormaAção será bem recebido e a nossa pesquisa servirá de base para muitos outros pesquisadores e, confiantemente, para mudança social e comunicacional da comunidade.
Outras pesquisas que foram desenvolvidas:
Fruto de seu estudo no doutorado, a professora Sammara Jericó pesquisou: “A narrativa jornalística, história e memória: com a comemoração dos 200 anos da Batalha do Jenipapo foi (re)contada nas matérias de três portais piauienses – G1 Piauí, O DIA e Cidade Verde”.
No trabalho, o Jornalismo é colocado para além de um meio de retratar o dia-a-dia, o cotidiano e o agora, e sim como elemento significativo para construção de conhecimento por meio da divulgação de informações e, consequentemente, como meio capaz de contribuir para a preservação da memória histórica de fatos como a Batalha do Jenipapo. Assim, o objetivo geral foi identificar, por meio de uma análise de conteúdo, como os portais retrataram um feito histórico tão relevante para a história do Brasil e do Estado.
A docente afirma que a importância do tema está em contribuir para o entrelaçamento de áreas, como Jornalismo e História; onde elas podem contribuir para conhecimento de fatos, como a batalha do jenipapo. De acordo com ela, outro fator importante está em estudar a própria mídia quanto aos aspectos ligados a sua prática, rotinas e funções.
“Foi a primeira vez que apresentei um artigo sozinha no Intercom e me senti muito ansiosa e muito feliz. Em outra oportunidade, estava como co-orientadora e fiquei menos nervosa. Mas essa sensação de alegria é boa, porque demonstra o quanto ainda a pesquisa me motiva, me deixa feliz e me incentiva a buscar novos desafios acadêmicos”, afirmou.
Já de forma presencial, a professora Samária Andrade, juntamente de André Gonçalves (PPGCOM – UFPI) apresentaram o trabalho: “Experiências alternativas nas margens: iniciativas comunicativas contra-hegemônicas em Teresina-PI”.
A pesquisa contou com a colaboração do grupo de pesquisa TRAMPO da UESPI/CNPq e foi apresentado pelos docentes no grupo Economia Política da Informação e Cultura.
Com a colaboração dos jornalistas Ricardo Claro e Vitória Pilar, este estudo examina transformações na indústria da comunicação, destacando iniciativas comunicativas contra-hegemônicas no cenário atual, alterado e dominado por grandes empresas de plataformas digitais. A docente Samária Andrade destacou que estas iniciativas são heterogêneas e oscilam entre a concentração midiática e a contestação à mídia convencional, apresentando formas variadas de produção, distribuição e financiamento.
“A pesquisa foca em agentes contra-hegemônicos, em Teresina (Piauí), surgidos após 2010, descritos como “os alternativos dos alternativos”, ou seja, agentes marginais à comunicação mainstream e também à comunicação contra-hegemônica central. A metodologia inclui observação empírica e aplicação de questionários. As análises buscam entender características e relações dessas iniciativas com o contexto de mudanças globais na comunicação”.
Mais trabalhos sobre o campo jornalístico
Maria Cecília de Souza, orientada por Orlando Berti trouxe “O metaverso na mídia webjornalística piauiense que faz crossmedia”. O projeto explorou como o metaverso está moldando a narrativa jornalística online e como as notícias são adaptadas para diferentes plataformas digitais.
Comunicação e Representação LGBTQIAP+ no vídeoclipe “MONTERO (Call Me By Your Name)” do cantor Lil Nas X – Danilo Costa dos Santos, com orientação de Flávio Menezes Santana.