Por Giovana Andrade
Hoje, a Ascom irá contar a trajetória da egressa do curso de Bacharelado em Jornalismo, Vitória Pilar, que recém publicou seu livro-reportagem fruto do seu Trabalho de conclusão de curso (TCC). Vitória nasceu em Teresina, mas mencionou que foi criada pela família da sua avó, que pertence ao interior do Maranhão. Além disso, relatou que passou a maior parte da sua vida em Timon. Ela é de uma família de livreiros e sempre conviveu com livros ao seu redor. Os livros, especialmente no primeiro semestre do ano, faziam parte do ambiente da sua casa e havia tantos que precisavam ser armazenados nos quartos, guarda-roupas e na sala. Essa situação desempenhou um papel importante na sua infância e na história da sua família que, recém-chegados em Timon, precisaram ganhar a vida entre a cidade maranhense e a capital do Piauí.
Apesar de fazer parte de uma família de livreiros, a egressa de Jornalismo destacou que não provém de uma família letrada. Suas tias e avós sempre reconheceram a importância da Educação nas vidas deles e venceram as dificuldades financeiras para proporcionarem aos netos uma oportunidade de ensino superior. O ingresso dela na universidade marcou o início de uma nova geração da família dentro de uma instituição de ensino superior pública. Vitória Pilar enfatizou que entrou na universidade impulsionada pela determinação e apoio da sua família, com o objetivo de oferecer um futuro diferente das dificuldades financeiras que eles enfrentaram anteriormente. Ela também mencionou que sua família, embora não fosse rica, fez todo o possível para garantir um ambiente de estudo confortável durante seus primeiros anos de curso, especialmente quando a pandemia se instalou. “Entrei no jornalismo sem padrinhos de profissão. Sem sobrenome, nem parentes importantes. Fui engatinhando dentro do curso com as possibilidades e as opções que eu tinha”.
Vitória explicou que durante a pandemia participou de uma disciplina de pesquisa como ouvinte. Mesmo sem adicionar a experiência ao seu currículo, criou um projeto de pesquisa do zero. Na época, estava altamente motivada a compreender melhor como as prostitutas eram retratadas na mídia, com foco especial no Webjornalismo. Observou que, naquele momento, essas mulheres eram frequentemente representadas de maneira negativa nos cadernos policiais. O interesse, como pesquisadora, aumentou e ela decidiu investigar o tema mais profundamente.
No decorrer do processo, ela conheceu a Associação de Prostitutas do Piauí, a Aprospi, onde teve a chance de se encontrar com Célia, a Presidente da Associação, e considerou que a história dela era importante e merecia ser ouvida, afinal, Célia tinha uma perspectiva valiosa para compartilhar sobre o assunto. A partir disso surgiu o seu o livro “Prostituta é comunidade”, fruto do seu TCC. A Assessoria de Comunicação da UESPI realizou uma entrevista com a egressa para conhecer um pouco mais sobre seu livro recém lançado. Confira abaixo:
Ascom: O título do seu livro “Prostituta é Comunidade” desperta curiosidade. Pode nos explicar o significado por trás desse título e como ele reflete o conteúdo de sua pesquisa?
__ Em 2021, eu fiz uma reportagem para a revista Revestrés, que era um perfil sobre a história da Célia. Durante a entrevista, enquanto ela estava em uma fala (agora não me recordo da pergunta), ela mencionou – “Prostituta é comunidade”. Ela disse que as prostitutas, aquelas que se prostituem por sobrevivência, muitas vezes vivem nas comunidades e periferias. Essas mulheres representam um grande número na sociedade. Claro, existe outra faceta da prostituição, conhecida como “prostituição de luxo”, que é uma profissão diferente daquelas que se prostituem por necessidade para sobreviver.
Dentro das comunidades, essas mulheres enfrentam desafios adicionais, porque a maioria delas é mãe e depende das políticas públicas para garantir uma sobrevivência digna e o bem-estar de seus filhos. Eu gostei muito dessa frase dela, e ela acabou se tornando o título da minha reportagem. Acredito que ela continua muito relevante, pois nos faz refletir sobre a importância de reconhecer que dentro das comunidades existem pessoas que merecem respeito e acesso às políticas e garantias de bem-estar, assim como qualquer outro cidadão.
Ascom: Durante sua pesquisa, qual foi a abordagem que você adotou para entender melhor a vida e a realidade das profissionais do sexo?
__Foi meio que uma combinação dos métodos, mas, como mencionei antes, entrei em uma disciplina para compreender como as prostitutas eram representadas na mídia. Inicialmente, eu não tinha a necessidade de entrar em contato com nenhum profissional do sexo. A maneira pela qual eu tentei encontrar essas profissionais foi através da Associação. No entanto, acabei me envolvendo profundamente com a história da Associação e a trajetória da Célia. Portanto, não cheguei a entrevistar as prostitutas em si. Minha reportagem e meu livro se concentram na vida da Célia e na história da Associação, mas na perspectiva de que estou estudando uma figura central para entender outras realidades.
Essa pesquisa, mesmo que tenha se materializado em um livro para o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), já estava em andamento desde 2020, ou seja, há três anos. Durante esse período, participei ativamente das atividades da Associação, convivi com a Célia, visitei sua casa e participei dos eventos que ela organizou ou que a associação foi convidada.
Ascom: Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao realizar seu TCC e transformá-lo em um livro? E Como foi o processo de encontrar uma editora para a publicação do livro?
__Os principais desafios que enfrentei ao escrever o livro estavam diretamente relacionados as questões financeiras. A produção de um livro envolve despesas significativas, como o processo de diagramação, o uso de fotos, revisão e a contratação de uma editora para conferir o selo ao livro. Portanto, tudo isso demanda recursos financeiros, uma vez que envolve a contratação de outros profissionais, como designers, fotógrafos, revisores e uma editora. No entanto, no que diz respeito à história em si, não encontrei muita dificuldade, pois contei com a ajuda de uma amiga que possuía uma editora e que também atuou como revisora do livro. Sempre que eu falava sobre o livro, ela dizia que poderíamos realizar todo o processo por meio de sua editora. Portanto, essa não foi, de longe, a maior dificuldade que enfrentei.
As verdadeiras adversidades surgiram nas questões financeiras, uma vez que tudo tem um custo, e, obviamente, a participação de outros profissionais exigia remuneração. Foi em torno dessas questões financeiras que encontrei os maiores desafios, pois, depois de concluir o TCC, fui fortemente incentivada a publicar e a continuar com o projeto além do ambiente universitário. Os obstáculos foram principalmente devido ao alto custo envolvido na publicação de um livro, tornando o aspecto financeiro um desafio significativo.
Gostaria de enfatizar que meu livro não recebeu nenhum tipo de financiamento externo. É importante ressaltar que a única forma de apoio que posso considerar foi a capa, que foi uma doação feita por minha amiga. Em resumo, não obtive doações de empresas ou apoio financeiro de instituições para a publicação do livro. Acredito que isso seja um ponto crucial quando se trata de projetos culturais e publicações de livros, pois eles dependem de recursos para se manterem. Embora tenha recebido muitos incentivos e apoios de outras formas para a publicação, financeiramente, assumi os custos, incluindo a impressão, que foi uma das despesas mais significativas, além de pagar a editora pelo trabalho de diagramação, revisão e design da capa.
Ascom: Qual é a mensagem central que você espera transmitir aos leitores por meio de “Prostituta é Comunidade”?
__A mensagem central do livro é que independentemente da profissão que as pessoas tenham ou do lugar em que estejam, elas devem ter acesso garantido à sua dignidade, aos seus direitos e aos compromissos que o estado deve assumir, especialmente em relação às populações vulneráveis. O foco principal do livro está nos grupos historicamente estigmatizados devido às suas condições no mundo. A mensagem central é que as pessoas precisam ter seus direitos resguardados e protegidos e acesso a cidadania.
Ascom: Qual foi o momento mais gratificante ou emocionante para você durante todo o processo de pesquisa, escrita e publicação do livro?
__“Prostituta é comunidade” é um livro que representa uma jornada de três anos, desde a primeira entrevista até agora, quando vou pegar os primeiros exemplares na sexta-feira. Todos os momentos dessa jornada foram gratificantes, embora alguns tenham sido mais emocionantes do que outros. A história também é a história da minha amizade com a Célia. À medida que descobrimos essa amizade e construímos um encontro baseado em respeito, de olhar para a outra sem preconceitos, todos esses momentos se tornam parte de uma emoção maior.
Não há um momento específico que seja mais emocionante do que outro, porque todos contribuem para essa experiência gratificante. É tudo parte de algo muito maior, que é contar uma história sobre cidadania. Acredito que isso talvez responda à sua pergunta no sentido de que todo o processo de pesquisa e publicação do livro está relacionado a algo que transcende nós, que é sobre os direitos das mulheres e o direito das pessoas de terem sua dignidade preservada.
Ascom: Onde os interessados podem encontrar seu livro “Prostituta é Comunidade”?
__Para quem estiver interessado em adquirir o livro, basta entrar em contato comigo através das minhas redes sociais, que são @vitoriasousapilar no Instagram ou pelo Instagram do Livro, que é @prostitutaecomunidade.
Aqueles que comprarem até o dia 14 receberão alguns brindes como parte da pré-venda. Se por acaso você não puder receber na pré-venda, o frete será gratuito. Eu farei a entrega onde a pessoa estiver, mas essa opção de frete grátis se aplica apenas à região Nordeste. Para quem estiver em outros estados, será necessário cobrar uma taxa adicional para cobrir os custos de envio.
Ascom: Por fim, gostaria que destacasse ao final, a importância que a Universidade Estadual do Piauí tem para a sua vida e como ela contribuiu para onde você chegou até hoje.
__A importância que o curso de Jornalismo teve na minha vida foi fundamental. Fazer o curso de jornalismo e estar cercada por pessoas que me apoiaram na criação do livro foi resultado direto da minha experiência na universidade. As disciplinas que cursei me proporcionaram o entendimento da construção de um texto, além de me permitirem conhecer outras histórias que enriqueceram minha experiência com diferentes tipos de escrita e vivências. Tudo isso contribuiu para a concepção do livro.
O livro só existe fundamentalmente porque fez parte de uma disciplina da instituição, mas tudo o que ocorreu durante o curso me ajudou direta e indiretamente para que eu tivesse uma base sólida e suficiente para pensar num livro-reportagem. Além disso, a universidade também desempenha um papel importante, fazendo refletir sobre a necessidade de retribuir à sociedade o que aprendemos. Publicar o livro após a graduação é, de certa forma, uma maneira de contribuir e compartilhar com o mundo o conhecimento adquirido na UESPI, levando para fora e compartilhando com as pessoas.