Por Raíza Leão
A Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Campus Dom José Vázquez Díaz, em Bom Jesus, realizou nos dias 21 e 22 de novembro a primeira edição do “VIVER — Valorização da Infância e das Vozes na Educação para as Relações Étnico-Raciais”. O evento, promovido em alusão ao Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, reuniu estudantes, docentes, profissionais da educação e comunidade em geral para discutir práticas pedagógicas voltadas à diversidade étnico-racial, com ênfase no protagonismo infantil.

Com o tema “Infâncias que contam: Saberes, Raízes e Resistências”, o VIVER propôs uma reflexão sobre a infância não apenas como etapa da vida, mas como um espaço de produção de saberes, memórias e narrativas de resistência. O encontro destacou a criança como sujeito histórico e cultural, capaz de construir conhecimento, expressar experiências e fortalecer identidades. Inspirada na noção de escrevivência, de Conceição Evaristo, a proposta reconheceu falas, gestos e produções infantis como “textos vivos” que revelam raízes ancestrais e resistem a processos de silenciamento.
O evento surgiu de um projeto de extensão do curso de Pedagogia da UESPI, coordenado pelo professor Jeferson Gomes, que também liderou a comissão organizadora. Ele explica que a iniciativa nasceu das discussões em sala de aula sobre currículo e educação para as relações étnico-raciais na infância. “Tudo começou com um projeto de extensão que tratava da atuação de professores na educação infantil e nos anos iniciais. Quando chego à universidade, começo a trabalhar dentro da minha área de pesquisa, que são as relações étnico-raciais na educação. A proposta previa que, ao final de um ano, realizássemos um evento de extensão”, relata.

O nome, a programação e a escolha das palestras foram construídos em diálogo com uma turma da disciplina História e Cultura Afro-Brasileira. “A ideia surge a partir das vivências reais dos nossos alunos e alunas, já que as discussões em sala tratavam muito sobre as primeiras percepções que temos na sociedade, ou seja, na infância”, acrescenta o professor.
As atividades do VIVER envolveram rodas de conversa, palestras, leituras compartilhadas, oficinas e ações culturais. Um dos destaques foi a “Caixa da Leitura”, que disponibilizou obras literárias para a comunidade. “O projeto se inicia com a formação dos estudantes, mas também com o acesso a obras literárias pelo público em geral. As rodas de conversa ocorreram dentro e fora da universidade, e convidamos palestrantes de diferentes espaços, fortalecendo a parceria entre instituições e professores da educação básica de Bom Jesus e de outras regiões”, explica Jeferson Gomes.

O evento também promoveu visitas técnicas a comunidades quilombolas, indígenas e escolas, ampliando o contato dos alunos com realidades que fortalecem a formação crítica, humana e antirracista dos futuros pedagogos. A interdisciplinaridade foi outra marca, com participação de docentes de diversas licenciaturas e áreas de formação. Ao destacar o papel institucional da UESPI, o professor reforça a importância da articulação entre ensino, pesquisa e extensão. “A universidade tem esse papel: oportunizar aos nossos educandos e à sociedade momentos de aquisição de conhecimento. O evento veio promover debates sobre diversidade, identidade e educação antirracista, porque é pela educação que somos capazes de transformar, seguindo o caminho da reeducação da nossa sociedade”.
