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UESPI celebra o Dia do Nordestino com foco na valorização da cultura e das identidades locais

Por Roger Cunha, Eduarda Sousa e Jésila Fontenele

O Nordeste é terra de muitas vozes, ritmos, cores e sabores. Composto por nove estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. O Nordeste brasileiro é reconhecido por sua diversidade cultural, que se manifesta em festas populares, religiosidade, culinária e expressões artísticas que atravessam gerações e resistem ao tempo.

Pesquisas da UESPI fortalecem a cultura e a identidade nordestina no Dia do Nordestino.

Essa região guarda uma riqueza imensurável de tradições e saberes, onde cada canto, dança, verso e sabor contam histórias de resistência, fé e criatividade. É um território de identidades múltiplas, onde o sertão, o litoral, a zona da mata e o agreste se entrelaçam na construção de uma cultura que emociona e inspira o Brasil.

Hoje, 8 de outubro, celebra-se o Dia do Nordestino, uma data que homenageia o povo, a história e a cultura dessa região tão rica e plural. A data faz referência ao poeta e cantor Patativa do Assaré (1909–2002), cuja poesia popular retratou com sensibilidade as lutas, a sabedoria e o cotidiano do sertão.

No Piauí, a Universidade Estadual do Piauí (UESPI) tem um papel central na valorização e preservação dessas identidades. Por meio do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Sociedade e Cultura (PPGSC), a instituição desenvolve pesquisas que exploram as múltiplas dimensões da vida social e cultural do Nordeste, promovendo o diálogo entre tradição, memória e modernidade. É na universidade pública que essas histórias ganham novo fôlego,  transformando cultura em conhecimento e identidade em resistência.

Entre os estudos recentes, destacam-se:

  • Casas de farinha e práticas de gênero – Jorge Vitório investiga como espaços tradicionais do sertão não são apenas locais de produção, mas também de aprendizado, socialização e fortalecimento das relações comunitárias.
  • Educação no campo e identidade local – Adilson de Apiaim evidencia como políticas públicas influenciam a cultura, a educação e a vida cotidiana das comunidades rurais, contribuindo para a construção de identidades locais.
  • Migração e redes de sociabilidade – Raiane Melo Brito mostra como piauienses que migraram para São Paulo mantêm vivas suas tradições, criando redes sociais que preservam a identidade cultural mesmo à distância.
  • Memória e resistência – Aline da Silva Campos realiza estudos sobre comunidades e relações transnacionais, demonstrando a importância da memória cultural na formação da identidade coletiva e na resistência frente a processos de marginalização social.

Essas pesquisas revelam que a cultura nordestina vai muito além de festas e culinária: ela é uma expressão viva de relações sociais, práticas educativas, memória coletiva e resiliência das comunidades. Por meio do PPGSC, a UESPI promove uma compreensão aprofundada da sociedade piauiense, contribuindo para a valorização do patrimônio cultural imaterial do Nordeste.

Pesquisas da UESPI fortalecem a cultura e a identidade nordestina no Dia do Nordestino. / Coordenadora do PPGSC, professora Cristiana Costa e o professor do PPGSC, Valério Negreiros.

Para a coordenadora do programa, professora Cristiana Costa, a universidade não apenas preserva as tradições, mas também forma cidadãos capazes de compreender e promover a cultura piauiense e nordestina com profundidade crítica. “O programa traz uma perspectiva de impacto direto na sociedade, na medida em que os trabalhos que produzimos têm potencial para subsidiar futuras políticas públicas e provocar reflexões sobre temas sensíveis. Trabalhamos com relações étnico-raciais, identidades, povos indígenas, quilombolas, trabalhadores e trabalhadoras. São discussões que estão na agenda atual do mundo, e que aqui ganham uma dimensão prática e regional”, explica Cristiana.

Ela reforça que essa valorização da cultura começa ainda na graduação, por meio de atividades de pesquisa e extensão. “Nosso trabalho começa na graduação. As iniciações científicas e as atividades de extensão são fundamentais para formar os alunos, despertar o interesse pela pesquisa e criar uma base para a pós-graduação. É ali que se gesta uma visão crítica, que permite aos estudantes compreender a realidade local e regional, pensar a sociedade e se preparar para contribuir ativamente, seja no mestrado, no doutorado ou na própria comunidade em que vivem”.

Pesquisas da UESPI fortalecem a cultura e a identidade nordestina no Dia do Nordestino / Foto: ASCOM-UESPI

A professora contextualiza ainda o impacto das pesquisas sobre a visibilidade do Piauí e do Nordeste. “Quando conseguimos produzir pesquisas que têm impacto e ganham destaque, conseguimos dar visibilidade ao nosso estado. Pesquisas sobre a farinhada, o Bumba Meu Boi e até estudos sobre migrantes de Pedro II em São Paulo mostram como a cultura piauiense é fundamental para a manutenção da identidade e para a resistência cotidiana das pessoas. Esses trabalhos evidenciam como as tradições alimentares, as festas e os encontros sociais se transformam em elementos essenciais para a construção da memória e da cultura regional, mesmo fora do estado”.

A interdisciplinaridade, segundo Cristiana, é outro pilar do programa, permitindo que diferentes áreas do conhecimento se somem em prol de uma compreensão mais ampla da sociedade. “Trabalhos interdisciplinares somam olhares distintos e enriquecem a compreensão sobre a sociedade. Quando historiadores, geógrafos, literatos e outros profissionais atuam juntos, conseguimos propor novas perspectivas, questionar paradigmas e criar produtos que impactam diretamente a sociedade. Isso é essencial para a valorização da cultura, para a formação crítica dos estudantes e para a proposição de políticas públicas mais eficazes”.

Pesquisas da UESPI fortalecem a cultura e a identidade nordestina no Dia do Nordestino / Foto: ASCOM-UESPI

Sobre o papel do estudante na preservação e promoção da cultura, a professora é enfática. “O estudante tem um papel muito importante na sociedade. Ele precisa refletir sobre sua identidade, sobre a cultura em que está inserido, e transformar isso em prática no cotidiano, seja como jornalista, professor, médico ou em qualquer outra profissão. No Dia do Nordestino, celebramos tradições e resistências do nosso povo, mas é importante que essa valorização seja cotidiana. A universidade tem o compromisso de educar, formar e produzir pesquisas que garantam que a cultura regional seja conhecida, respeitada e perpetuada”.

O professor do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura (PPGSC) da UESPI, Valério Negreiros, desenvolveu uma  pesquisa sobre o Bumba-meu-boi como patrimônio cultural do Piauí, destacando a importância histórica e social dessa manifestação. Segundo ele, o interesse pelo estudo surgiu a partir da trajetória do intelectual Noé Mendes, ativo nos anos 1970 e 1980, que buscou valorizar a identidade piauiense dentro de um contexto de regionalismo nacional. “O meu olhar partiu inicialmente para esse intelectual que, nas suas produções e na sua atuação social, trouxe elementos que hoje identificamos como a identidade piauiense, como o Boi, o reisado, manifestações que carregam o elemento de ser nordestino, de ser piauiense”, explica o professor.

Para Valério Negreiros, o Bumba-meu-boi representa não apenas uma expressão artística, mas um reflexo da formação social e histórica do Piauí. Ele lembra que, entre os séculos XVII e XVIII, o estado teve forte presença na pecuária, o que influenciou as dinâmicas culturais em torno das fazendas, como a vida dos vaqueiros e a produção de carne e couro. “Parte dessa dinâmica cultural da nossa formação social, que pensa essa manifestação cultural, é essencial para compreender um elemento típico que não é só piauiense, mas que se conecta com outras regiões do Brasil, como o Boi de Parintins ou o Boi de Mamão. A cultura é dinâmica, e o Bumba-meu-boi reflete essa vivência de ser nordestino e piauiense”, detalha.

Pesquisas da UESPI fortalecem a cultura e a identidade nordestina no Dia do Nordestino / Foto: ASCOM-UESPI

O pesquisador também aponta que, embora a cultura seja dinâmica e possa sofrer transformações, iniciativas legais e políticas públicas garantem a preservação do Bumba-meu-boi. O Estado do Piauí reconhece a manifestação como patrimônio cultural, criando mecanismos de proteção aos brincantes, incluindo bolsas e incentivos para a transmissão do saber às novas gerações. “Temos uma lei que garante às pessoas que fazem essa manifestação um registro enquanto patrimônio vivo. É uma forma de reconhecimento histórico e social, permitindo que essas pessoas, muitas vezes em situação de vulnerabilidade, recebam apoio para continuar a tradição e transmitir o conhecimento a crianças e adolescentes interessados”, ressalta Negreiros.

Segundo o professor, a universidade desempenha um papel essencial nesse processo. Através do tripé ensino, pesquisa e extensão, é possível valorizar os sujeitos históricos e culturais, integrando comunidade e academia. Cursos, oficinas e a participação de fazedores de cultura em atividades acadêmicas fortalecem o vínculo entre tradição e conhecimento científico. “O papel da universidade é levar essas manifestações à comunidade e trazer a comunidade para a universidade. É fundamental delimitar espaços para que os fazedores de cultura participem de cursos de graduação e pós-graduação, fortalecendo a valorização cultural e acadêmica”, afirma.

Para estudantes interessados em estudar a cultura popular do Piauí, Valério Negreiros deixa uma mensagem clara: conhecer a história é essencial para compreender e valorizar a identidade regional. “Principalmente, procurem conhecer a nossa história. Revisitem a formação do Piauí para entender a cultura a partir da perspectiva da constituição da nossa identidade”, aconselha.

Pesquisas da UESPI fortalecem a cultura e a identidade nordestina no Dia do Nordestino / Foto: ASCOM-UESPI

Um outro exemplo dessa valorização é o trabalho desenvolvido pela pesquisadora Raiane Melo Brito, egressa do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Sociedade e Cultura (PPGSC/UESPI), autora da dissertação “Ser garçom na metrópole: migrações, trabalho e redes de sociabilidades de pedro-segundenses em São Paulo”, que investiga as trajetórias de vida de trabalhadores piauienses migrantes na capital paulista entre as décadas de 1980 e 2010.

Para Raiane Melo, o Dia do Nordestino vai muito além das representações simbólicas. É uma oportunidade de reafirmar a grandiosidade de uma cultura que, apesar de ter sido historicamente marginalizada, revela profundidade, criatividade e resistência. “Embora eu não tenha nascido no Piauí, meus pais e toda a minha família são oriundos do sertão, dos municípios rurais de Domingos Mourão e Pedro II, ao norte do estado. Crescendo em São Paulo, sempre convivi com migrantes nordestinos, com suas práticas sociais e culturais, que se tornaram parte do meu cotidiano e da minha formação pessoal”, conta a pesquisadora.

Segundo ela, o convívio com famílias migrantes e com as tradições nordestinas despertou o desejo de compreender academicamente essas vivências. Por isso, sua pesquisa se debruça sobre os relatos de vida e as experiências de trabalhadores piauienses que migraram para São Paulo em busca de oportunidades, buscando compreender a migração como um projeto de vida e não apenas como fuga da seca ou da pobreza. “Compreendemos a migração como um projeto de vida das famílias rurais, uma estratégia altamente organizada entre as redes familiares que se formam desde o lugar de origem até o local de destino. Buscamos valorizar as experiências e os sentidos que os trabalhadores atribuíam ao seu cotidiano, junto aos aspectos sociais e culturais que resistem e se reinventam em São Paulo”, explica Raiane Melo.

Pesquisas da UESPI fortalecem a cultura e a identidade nordestina no Dia do Nordestino / Foto: ASCOM-UESPI

A pesquisa também reflete sobre o papel do trabalho e da identidade, destacando que os garçons pedro-segundenses se tornaram símbolo de esforço, dignidade e pertencimento dentro do espaço urbano da metrópole paulista. “Acredito que a minha pesquisa se destaca por retratar esses indivíduos não como meros números ou cifras, supostamente fugindo do cenário da seca e da fome — abordagem comum em alguns estudos migratórios —, mas por compreender suas vivências e a agência no contexto da história social do trabalho”, destaca.

Para a pesquisadora, desenvolver esse trabalho na UESPI foi uma experiência transformadora. Ela reconhece o papel da universidade pública como espaço de construção do conhecimento a partir das realidades locais e das vozes do próprio povo nordestino. “Apesar de ter feito a graduação em Ciências Sociais também em uma universidade pública, foi somente na UESPI, no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Sociedade e Cultura, que senti de forma mais profunda o privilégio de realizar pesquisa em uma instituição pública. Estudar a realidade brasileira, sobretudo por meio das narrativas dos sujeitos pesquisados, é algo extremamente inspirador e nos faz criar uma conexão mais profunda com o que estamos investigando”, afirma.

O PPGSC, segundo Raiane Melo, é um espaço que fortalece o pensamento crítico e interdisciplinar, abrindo novas perspectivas sobre a realidade do Nordeste. “O que mais me cativou durante o mestrado foram as temáticas abordadas e a competência dos professores, que promovem uma formação crítica e conectada com a realidade social. O Programa adota uma perspectiva decolonial ao buscar compreender não apenas as desigualdades e dilemas, mas também as potencialidades e as diversas formas de resistência das comunidades piauienses”, acrescenta.

Pesquisas da UESPI fortalecem a cultura e a identidade nordestina no Dia do Nordestino / Foto: ASCOM-UESPI

Além de fomentar a produção científica sobre o Piauí e o Nordeste, a pesquisadora destaca que a UESPI tem um compromisso com a valorização da história e da cultura regionais, integrando comunidade, ensino e pesquisa. “A UESPI e o PPGSC têm fortalecido e valorizado a cultura e a história do Nordeste, pois é uma instituição pública que reconhece e valoriza a história da sua própria região. São incentivadas pesquisas, eventos e publicações que dão visibilidade à cultura nordestina e às tradições locais”, ressalta.

Para Raiane Melo, é fundamental que a universidade produza conhecimento a partir das realidades locais, reconhecendo a diversidade e a riqueza cultural do Nordeste como parte essencial do desenvolvimento do país. “Ao valorizar o conhecimento local, a universidade reconhece o potencial da sua região e reforça o papel transformador da educação pública. Acredito que o PPGSC da UESPI tem trilhado esse caminho, e é isso que dá sentido à pesquisa e justifica a existência de programas de pós-graduação”, enfatiza.

Encerrando sua fala, a pesquisadora deixa uma mensagem de incentivo a todos os estudantes e cidadãos que se orgulham de suas origens nordestinas. “A educação e a pesquisa acadêmica são ferramentas poderosas para reafirmar cultura e identidade. Por meio delas, podemos compreender as potencialidades e dilemas que nos cercam e contribuir para o conhecimento que reflete nossa realidade. Esse orgulho de ser nordestino se manifesta quando valorizamos nossa identidade e fortalecemos nossas raízes. Feliz Dia do Nordestino!”

Pesquisas da UESPI fortalecem a cultura e a identidade nordestina no Dia do Nordestino / Foto: ASCOM-UESPI

As pesquisas realizadas por Raiane Melo e outros discentes do PPGSC/UESPI estão disponíveis no Repositório Institucional da Universidade Estadual do Piauí https://sistemas2.uespi.br/, que reúne produções científicas dedicadas à valorização da cultura, da história e da sociedade nordestina.

O Dia do Nordestino não é apenas uma data de comemoração, mas também uma oportunidade para refletir sobre a riqueza cultural da região e sobre a importância da pesquisa acadêmica na preservação da identidade nordestina. Ao estudar, documentar e analisar tradições, histórias de vida e práticas sociais, o PPGSC reforça o papel da universidade como guardiã e promotora da cultura regional.

E para quem quer ouvir mais sobre essa valorização da cultura e da identidade nordestina, temos uma novidade: o UESPI Podcast traz um episódio especial nesta quinta-feira, 09/10 . A professora Cristiana Rocha, coordenadora do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Sociedade e Cultura (PPGSC) da UESPI, e o professor Valério Negreiros bateram um papo exclusivo com a nossa equipe sobre como a universidade promove a preservação das tradições, fortalece a memória cultural e transforma pesquisas em impacto social, explorando desde o Bumba-meu-boi até as diversas iniciativas de valorização da cultura piauiense e nordestina.

Não perca essa conversa inspiradora, cheia de histórias, descobertas e reflexões sobre cultura, identidade e resistência do povo nordestino. https://open.spotify.com/episode/0gvCLqycE9cy398qwh73pG?si=fk8_FQWpTp6P57YYEr-vBQ&nd=1&dlsi=53b5ee5c1de04b21

Você pode conferir também no Youtube Oficial da Uespi: https://www.youtube.com/watch?v=vucjZ-qGECw&list=PLhrWZO3DXBW81WT1grfA3HzNpnrvXID7f