Por Roger Cunha
A Universidade Estadual do Piauí realizou o evento de encerramento do Programa Pró Equidade de Gênero, Raça e Diversidade 2025. A cerimônia, transmitida ao vivo pelo canal oficial da UESPI no YouTube, reuniu docentes, técnicos, estudantes e representantes de órgãos estaduais para celebrar um ano de ações, pesquisas e formações que reafirmam o compromisso da instituição com uma cultura acadêmica mais acolhedora, inclusiva e plural.

Dez eixos, um compromisso: UESPI avança na luta por ambientes mais seguros e diversos
O encontro contou com a presença de autoridades como a Pró-Reitora de Ensino de Graduação, professora Mônica Gentil, representando o reitor professor Evandro Alberto, além da Vice-Pró-Reitora de Administração e Finanças, professora Joseane Leão, e da equipe do Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (NEVIM). O momento também homenageou a assistente social e ativista Ayra Dias, referência na luta pela diversidade e pelos direitos da população trans e o Reitor da UESPI, Professor Dr. Evandro Alberto.
Criado em 2024 e vinculado à Pró-Reitoria de Extensão, o Pró Equidade se consolidou como um programa permanente dentro da UESPI. De acordo com a coordenadora geral, professora Samaira Souza, o encerramento do ciclo não representa um “fim”, mas sim a conclusão de uma etapa. “Falamos em ‘encerramento’, mas é apenas simbólico. As ações não se encerram, porque elas acontecem diariamente nos setores, nos serviços e na vida da universidade.”
O programa foi desenvolvido ao longo do ano por uma comissão formada por seis mulheres, docentes e técnicas que se dedicaram a estruturar, articular e acompanhar ações distribuídas em 10 eixos temáticos, desde campanhas de conscientização até formações, rodas de conversa e pesquisas sobre diversidade, raça, gênero e combate ao assédio.

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Samaira Souza reforçou ainda que o ProEquidade tornou-se, na prática, uma política institucional. “Equidade de gênero, raça e diversidade tem seu lugar dentro da nossa instituição. Esse trabalho não é inventado: ele nasce das ações reais que já estão acontecendo e que precisam ser fortalecidas.”
A Pró-Reitora de Ensino de Graduação da UESPI, professora Mônica Gentil, participou do encontro representando o Reitor, professor Evandro Alberto, e reforçou institucionalmente o compromisso da universidade com a pauta da equidade. Ao abrir sua fala, ela destacou que o momento simboliza não apenas um gesto administrativo, mas um movimento necessário para que a instituição avance em direção a práticas mais justas e alinhadas às demandas sociais. “Este é um momento essencial para que a universidade repense suas práticas e se aproxime ainda mais da sociedade”, afirmou.
A Pró-Reitora também reconheceu o trabalho das equipes envolvidas na execução do programa, ressaltando o esforço contínuo para consolidar políticas internas que enfrentam desigualdades e fortaleçam a responsabilidade social da universidade. “Parabenizo todos que têm estado à frente desse programa, que têm lutado para que a equidade avance dentro da universidade”, completou.

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A representante da Secretaria Estadual da Mulher, Ayra Dias, homenageada do evento, fez uma das intervenções mais significativas da manhã. Mulher trans e negra, ela iniciou sua fala com autodescrição para fins de acessibilidade e apresentou dados levantados pelo Programa Pró Equidade ao longo do ano. “Somos um estado majoritariamente negro, mas isso ainda não se reflete nos espaços de poder”, afirmou.
Ayra Dias destacou que o perfil populacional do Piauí também aparece dentro da universidade. “O Piauí tem mais de 70% da população negra. E esse cenário está refletido na UESPI, onde a maioria das servidoras são mulheres negras altamente qualificadas”, pontuou.
Apesar disso, ela chamou atenção para os desafios enfrentados por esses profissionais no cotidiano institucional.“Ainda assim, essas mulheres vivenciam violências estruturais todos os dias. Violências que vão desde o etarismo até a cobrança pelo estado civil. Frases como: ‘Você não vai ter filhos?’, isso é violência.”
Ao comentar sobre o conceito de equidade, Ayra reforçou que o tema exige reconhecimento das diferenças e das desigualdades existentes. “A equidade não é sobre tratar todos como iguais. É sobre compreender que somos diferentes e que essas diferenças precisam ser respeitadas.”
Ela também destacou que iniciativas voltadas para ambientes institucionais mais inclusivos contribuem diretamente para a administração pública. “Ambientes saudáveis geram políticas públicas bem executadas. O Pró Equidade não é só uma ação bonita, ele melhora a qualidade do serviço público”, concluiu.

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A psicóloga Vitória Antão, do Enfrentamento à Violência contra a Mulher (NEVIM), apresentou dados que evidenciam a demanda crescente por atendimentos relacionados a situações de assédio e violência dentro da universidade.
Segundo ela, o núcleo registrou mais de 100 atendimentos ao longo do ano, número que inclui acolhimentos iniciais, retornos e acompanhamentos contínuos. “Não são 100 mulheres. São atendimentos, retornos, acompanhamentos”, explicou.
Vitória destacou que muitos casos chegam ao núcleo após um período de dúvida e dificuldade de identificação da situação vivida. “As mulheres sabem que algo não está certo, mas não conseguem identificar. Nosso papel é acolher e orientar”, afirmou.
Ela também mencionou a cartilha “UESPI Livre de Assédio”, agora formalizada como resolução, e observou que diversos coordenadores, diretores e docentes não tinham clareza sobre os procedimentos adequados diante de denúncias.

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A comissão interna apresentou dez eixos de atuação que estruturam o Programa Pró Equidade na UESPI. Cada um reúne ações e projetos com resultados já identificados ao longo do ano. São eles:
- Eixo 1 — Cartilha de Equidade
• Eixo 2 — Formações presenciais e online
• Eixo 3 — Diálogo com a CPPD sobre carreira e promoção
• Eixo 4 — Café com a Gestão (escuta dos técnicos)
• Eixo 5 — Mulheres na Tecnologia
• Eixo 6 — UESPI Livre de Assédio
• Eixo 7 — Formação cultural e institucional contínua
• Eixo 8 — Campanha institucional de equidade
• Eixo 9 — Extensão, pesquisa e ensino pela equidade
• Eixo 10 — Roda de Vivências “Vozes que Inspiram”
Entre as apresentações técnicas da cerimônia, a professora Aline detalhou as ações do PET Equidade, projeto voltado à pesquisa e à formação acadêmica na área. Ela explicou que a UESPI participou de editais nacionais, estruturaram equipes de trabalho e desenvolveu grupos de pesquisa que resultaram em publicações, apresentações em eventos científicos e estudos aplicados ao tema da equidade. “A UESPI não espera que as ações cheguem. A universidade vai atrás. Hoje estamos presentes em projetos nacionais que nos colocam no debate sobre equidade na saúde”, afirmou.
O estudante Giovani, integrante do grupo, complementou a apresentação ao relatar a experiência dentro do programa. “Mostramos como a Psicologia está no centro da saúde. E como a equidade transforma nossas práticas e nossa formação”, destacou.
A professora Nadja Caroline apresentou os Eixos 1 e 2 do Programa Pró Equidade, destacando a relevância do trabalho desenvolvido pela comissão. Segundo ela, a participação no grupo tem sido fundamental para o crescimento institucional. “Crescemos muito como docentes, como mulheres, como servidoras e como pessoas”, afirmou.

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Eixo 1 — Cartilha de Equidade no Contexto Universitário
Nadja Caroline explicou que a cartilha está em fase final de elaboração e deve ser lançada no início de 2025. O material reunirá diretrizes, conceitos e orientações sobre equidade de gênero, raça e diversidade na universidade. “A cartilha reunirá diretrizes, conceitos e orientações gerais sobre equidade no ambiente universitário”, explicou.
Ela destacou que o documento será voltado a gestores, servidores, estudantes e coordenadores, trazendo definições e orientações sobre temas como discriminação, assédio e violência institucional. “Queremos que seja um material simples, acessível e ao mesmo tempo robusto, que possa orientar a comunidade acadêmica”, disse.
Eixo 2 — Formação Presencial e Online
Ao tratar do segundo eixo, a professora destacou as atividades formativas realizadas ao longo do ano, como rodas de conversa, palestras, oficinas, capacitações e ações com servidores e estudantes. “Este eixo reúne as formações, ações educativas e momentos de estudo referentes ao Pró Equidade”, explicou.
Ela citou como destaque a formação “Mulheres na Tecnologia e nas Profissões de Planejamento Urbano”, que buscou incentivar a presença feminina em áreas marcadas pela desigualdade de gênero. “O objetivo foi incentivar, fortalecer e valorizar a presença das mulheres, especialmente mulheres negras, nas áreas tecnológicas”, afirmou.
Eixo 3 — Diálogo com a CPPD sobre carreira e promoção
Outro ponto abordado foi a parceria com a CPPD para discutir carreira docente, promoção e progressão das mulheres na universidade. “Quando falamos em equidade, precisamos olhar para a carreira: onde as mulheres estão na docência e quais barreiras encontram?”, destacou.
A professora também ressaltou que as formações abordaram perspectivas interseccionais e refletiram sobre como estruturas como racismo, machismo, LGBTfobia e capacitismo influenciam o cotidiano acadêmico. “É nas práticas institucionais que muitas violências se escondem na fala, na postura e na forma como os espaços são ocupados”, afirmou.
A professora Fabiana Portela apresentou os Eixos 4 e 5 do Programa Pró Equidade, explicando as ações desenvolvidas ao longo do ano. “Vou apresentar os eixos 4 e 5”, iniciou.

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Eixo 4 — Café com a Gestão para Técnicos Administrativos
Fabiana Portela destacou que o eixo tem como finalidade aproximar a gestão dos técnicos administrativos por meio de momentos de diálogo. Segundo ela, o encontro realizado superou as expectativas. “Tivemos um encontro que foi muito além do que inicialmente planejamos”, afirmou.
Durante a atividade, os participantes relataram experiências relacionadas ao ambiente de trabalho. “Os técnicos puderam desabafar sobre vivências, relatar situações de assédio, falar sobre sobrecarga e expor violências simbólicas”, explicou. A professora também ressaltou que o espaço permitiu reflexões sobre o papel dos servidores na estrutura institucional. “Foi um momento importante para que eles se reconhecessem como sujeitos institucionais”, completou.
Eixo 5 — Mulheres na Tecnologia e nas Profissões de Planejamento Urbano
Sobre o eixo seguinte, Fabiana informou que as ações foram desenvolvidas em parceria com o curso de Arquitetura e Urbanismo. “O professor responsável acolheu a proposta e nos ajudou a desenhar um evento que discutiu a presença feminina nesses campos”, disse.
O encontro tratou dos desafios enfrentados por mulheres nas áreas tecnológicas e de planejamento urbano, das desigualdades de gênero e raça e de estratégias para fortalecer a inserção e permanência de mulheres negras. “Discutimos desigualdades e o papel da universidade na promoção dessas mudanças”, afirmou.
Eixo 6 — UESPI Livre de Assédio
Segundo a professora, esse eixo está diretamente ligado às ações do Núcleo de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher (NEVIM). “No Eixo 6 tratamos dos canais de denúncia, da identificação de situações de assédio, dos fluxos de acolhimento e das responsabilidades institucionais”, explicou.
A professora Aline retomou a apresentação para detalhar os Eixos 7, 8, 9 e 10 do Programa Pró Equidade. “Agora apresentarei o Eixo 7, que é um dos mais extensos e importantes”, afirmou, destacando que esse conjunto de ações dialoga diretamente com mudanças culturais dentro da universidade.

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Eixo 7 — Formação Cultural e Institucional Contínua e Práticas Antidiscriminatórias
Segundo Aline Menezes, o eixo reúne iniciativas voltadas à transformação das práticas institucionais. “Cultura institucional não muda apenas com uma palestra ou um evento; ela se transforma com constância”, explicou.
As ações envolveram formações com servidores, oficinas para estudantes, rodas de conversa com docentes, eventos temáticos, atividades integradas a outros programas da universidade e debates específicos sobre interseccionalidade.
“Essas práticas mostraram como a equidade está sendo incorporada no cotidiano da UESPI”, destacou.
Aline Menezes ressaltou ainda que muitas das atividades nasceram de demandas espontâneas da própria comunidade acadêmica.
“Isso mostra que estamos conseguindo provocar reflexão e movimento dentro da instituição”, afirmou.
Eixo 8 — Campanha Institucional por uma Cultura de Equidade
Na sequência, a professora apresentou o Eixo 8, voltado à comunicação institucional. “Este eixo trata de como dialogamos com a comunidade interna e externa sobre equidade”, explicou.
A campanha envolveu materiais informativos, vídeos, artes para redes sociais, cartazes, uso de linguagem inclusiva e divulgação dos fluxos de acolhimento e denúncia. Também valorizou grupos historicamente marginalizados, como mulheres negras, indígenas, quilombolas e pessoas trans. “O alinhamento com a ASCOM foi essencial para garantir que a comunicação da UESPI refletisse os valores do Pró Equidade”, afirmou.
Para Aline Menezes , sensibilizar é tão importante quanto informar. “A campanha buscou não apenas comunicar, mas promover conscientização”, reforçou.

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Eixo 9 — Conhecimento que Transforma: Diálogos entre Extensão, Pesquisa, Ensino e Equidade
A professora apresentou ainda o Eixo 9, que integra atividades acadêmicas ao debate sobre equidade. “O objetivo foi aproximar pesquisa, ensino e extensão dessa discussão”, explicou.
O eixo incluiu mesas-redondas, grupos de estudo, apresentações de pesquisa, eventos científicos e publicações. “Mostramos que a UESPI produz conhecimento relevante sobre equidade e tem potencial para se tornar referência nacional na pauta”, afirmou.
Cursos como Psicologia, Direito, Pedagogia, Enfermagem, Serviço Social, Arquitetura e Educação Física participaram das ações.
Eixo 10 — Roda de Vivências Intergeracionais e Interculturais: Vozes que Inspiram
Encerrando a apresentação, Aline destacou o Eixo 10, que promoveu um espaço de diálogo entre diferentes grupos da universidade. “Criamos um ambiente de escuta entre gerações e culturas distintas presentes na UESPI”, explicou.
Participaram mulheres jovens, idosas, negras, indígenas, quilombolas, mães solo, estudantes, servidoras, mulheres trans e profissionais da instituição. O objetivo foi compartilhar experiências, fortalecer vínculos e ampliar a compreensão sobre diversidade dentro da universidade.

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Antes do encerramento, o evento contou com a presença de Zenaide Batista Lustosa Neta, secretária Estadual das Mulheres do Governo do Piauí, que destacou a relevância das ações apresentadas e o compromisso institucional necessário para a promoção da equidade. Em sua fala, Zenaide ressaltou que iniciativas como as desenvolvidas pela UESPI “não apenas fortalecem a política pública, mas também transformam vidas dentro e fora da universidade”. Ela enfatizou que o enfrentamento às desigualdades de gênero, raça e diversidade exige constância, articulação entre setores e sensibilidade para compreender as realidades que atravessam estudantes, servidores e docentes.
A secretária também reforçou o impacto social mais amplo das ações, destacando o papel da educação superior como agente de transformação. “Quando a universidade assume a equidade como valor institucional, toda a sociedade avança”, afirmou. Para ela, a UESPI demonstra maturidade e compromisso ao colocar o debate sobre direitos, proteção, prevenção ao assédio e valorização das diversidades no centro de sua agenda. Zenaide finalizou afirmando que “essa construção coletiva é fundamental para garantirmos um Piauí mais justo, igualitário e acolhedor para todas e todos”.

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O encerramento do encontro não marcou apenas o fim de uma apresentação, mas a consolidação de um movimento que já está em curso dentro da UESPI. Os dez eixos do Pró Equidade evidenciaram que a universidade tem avançado de forma concreta na construção de ambientes mais seguros, diversos e acolhedores e que esse avanço não depende apenas de documentos, mas de pessoas que se comprometem diariamente com mudança cultural, cuidado e responsabilidade coletiva.
O evento reforçou que equidade não é uma meta abstrata, e sim um trabalho permanente que atravessa formação, comunicação, acolhimento e produção de conhecimento. Mais do que apresentar ações, o encontro mostrou que a UESPI tem escutado sua comunidade, tem aprendido com ela e tem respondido com políticas que começam a transformar práticas e percepções





