Por João Fernandes
Muitas vezes, os talentos mais surpreendentes podem estar escondidos atrás de uniformes de trabalho. É o caso de Francisco Paulo Pereira da Silva, de 55 anos, um dos vigilantes que zelam pela segurança da comunidade acadêmica e também é um talentoso pintor e artesão.
Nascido no interior do Maranhão, Paulo Pereira descobriu sua paixão muito cedo. Ele conta que, desde de sua infância, demonstrava ter talento com desenhos e rabiscos. Durante seu tempo livre, longe das responsabilidades como vigia, ele se dedica à pintura e à criação de peças artesanais. Ele criou um estilo único que combina influências locais com representações dos sentimentos que sente no momento, resultando em obras que transmitem a riqueza cultural com mensagens únicas.
Segundo o artista, sua inspiração para as obras vêm de vários lugares. “Busco inspiração em outros artistas que admiro e também nas histórias e experiências das pessoas que encomendam meus quadros. Por exemplo, quando as peças são encomendadas, elas sempre pedem algum elemento específico, uma paisagem que gostam ou os detalhes que querem. Assim, cada pedido de quadro é uma oportunidade de explorar novas técnicas e aperfeiçoar meu trabalho”, comenta.
Apesar de sua responsabilidade como vigilante, Paulo Pereira encontra maneiras de equilibrar as duas paixões, muitas vezes incorporando novos elementos artísticos em seu trabalho diário na Universidade. Seja através de murais e quadros inspiradores ou pequenas esculturas, que compartilha com os colegas e enfeitam a recepção de quem chega ao Palácio Pirajá, ele busca espalhar a beleza de suas artes por todos os lugares.
“Sempre admirei a arte, mas foi aqui, enquanto trabalhava ainda como pedreiro na construção de um dos setores do campus Torquato Neto, que descobri essa habilidade em expressar minha criatividade através dos desenhos. Os primeiros desenhos foram ficando conhecidos entre os colegas de trabalho até chegar no pessoal da Administração superior, que encomendou os primeiros quadros para enfeitar uma sala do Palácio e lá se vão quase 20 anos fazendo arte”, destaca.
Há quase dois anos Paulo Pereira expandiu seus talentos para além das telas, quando ele passou a criar peças artesanais inspiradas na cultura africana. Utilizando materiais reciclados e biscuit, ele dá vida as esculturas que homenageiam à diversidade do continente africano. “Escolhi fazer esculturas a partir de um desejo pessoal em começar a fazer peças artesanais. Comecei com as africanas por uma ligação histórica com o povo. As peças se tornaram uma forma de celebrar nossa ligação cultural com o povo e a conscientização sobre a importância da preservação ambiental”, pontua.
O exemplo de Paulo Pereira demonstra como a arte pode romper as barreiras do nosso cotidiano, transformando até mesmo a rotina de um vigilante em uma jornada criativa e expressiva. Seu mais novo trabalho foi feito para presentear o reitor da UESPI, prof. dr Evandro Alberto, com uma paisagem interiorana e a retração de dois cães inspirados nos que foram criados pelo professor. Ao receber o presente, o professor lembrou da importância de, assim como Paulo, cultivar nossas habilidades artísticas em todas as esferas da vida e de encontrar inspiração nas pequenas coisas que nos cercam.