Por Jésila fontinele
O curso de História da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), campus Professor Ariston Dias Lima, em São Raimundo Nonato, realizou recentemente a atividade “Oficina Rezadeiras do Piauí: Fé que acolhe e adoça vidas”, desenvolvida como parte da disciplina Práticas Pedagógicas.
A professora Cristiane Maria explicou que as oficinas foram realizadas com duas turmas do 8º ano da Unidade Escolar Serra da Capivara, em um trabalho dividido em etapas. Segundo ela, o principal objetivo foi promover um debate dialogado, no qual os discentes do curso de História buscaram valorizar a participação ativa dos estudantes e os conhecimentos prévios que eles já possuíam sobre o tema. Durante a oficina, os universitários levaram cascas, ramos e folhas de plantas, para que os alunos pudessem vivenciar uma experiência sensorial, associando cheiro, toque e memória aos saberes populares debatidos em sala.
“A proposta da oficina dialoga diretamente com a realidade dos alunos de uma cidade do interior do Piauí que tem uma relação de mais proximidade com estes guardiões da cultura, da religiosidade e da sabedoria popular que não aparecem no livro didático, mas estão presente na vida deles,” a professora ainda destacou sobre a troca de conhecimento, além da desconstrução de preconceitos, como um momento que buscou valorizar aspectos importantes da História de São Raimundo Nonato e contribuir para o fortalecimento dos sentimentos de pertencimento e identidade.
A aluna Aline da Silva Rocha destacou a importância de abordar a figura da rezadeira, explicando seu papel em épocas passadas, especialmente junto à população carente. Segundo ela, a oficina teve como objetivo compreender os motivos que levavam os indivíduos a procurarem essas mulheres, que exerciam uma função essencial na comunidade. “Buscamos a ajuda de uma rezadeira da região de São Lourenço, Piauí, para nos contar um pouco sobre suas práticas de livramento dos males. Foi assim que tivemos acesso a algumas de suas orações e ao uso de plantas medicinais, que levamos para a sala de aula. Esses elementos ajudaram a proporcionar uma compreensão mais próxima e enriquecedora para os alunos, facilitando o entendimento dos arsenais, chás, rezas, banhos e saberes praticados pelas rezadeiras”.
Aline ressaltou ainda que a experiência foi enriquecedora, pois contribuiu para a compreensão e valorização da tradição cultural. “Nos permitiu vivenciar de perto os desafios dentro da sala de aula, refletir sobre nossos próprios erros e buscar melhorias enquanto futuros profissionais. Do ponto de vista acadêmico, também foi fundamental, pois nos proporcionou aprendizados importantes para a construção e análise de pesquisas”.
A comunidade acadêmica, em recente reunião de alinhamento e planejamento para o Enade, destacou a importância dos futuros profissionais da educação que a instituição forma, reconhecendo seu papel fundamental como responsáveis pela base da formação das próximas gerações. Nesse sentido, a articulação entre teoria e prática no campus de São Raimundo Nonato , especialmente com a adoção de métodos sensoriais e o resgate de tradições e culturas locais, reforça a qualidade dos profissionais que a universidade tem inserido na sociedade.
Para o aluno Jaime Jesus, a oficina revelou o papel primordial da figura das rezadeiras, não apenas na fé, mas também na saúde e na vida social das pessoas, especialmente nas comunidades mais carentes. “Mostramos como o uso das ervas medicinais, muitas delas nativas do nosso estado, é parte desse saber popular que precisa ser valorizado. A ideia foi fazer com que os alunos enxergassem a rezadeira como símbolo de resistência, fé e cuidado, e que a história e a força dessas mulheres nunca sejam esquecidas”, ressaltou o aluno, que destacou ainda a contribuição da atividade para sua formação como estudante e futuro professor. Ele enfatizou a importância das rezadeiras como figuras centrais na construção da identidade local, representando resistência e acolhimento.
“Essas mulheres são memórias vivas da nossa cultura, e conhecer mais sobre elas nos fez perceber como é essencial levar temas assim, que fazem parte da identidade e do dia a dia dos alunos, para dentro da sala de aula”, concluiu o discente Jaime Jesus de Lima.