Por João Fernandes
Faleceu nesta quinta-feira(11), o professor Elio Ferreira de Souza, professor decano do Curso de Letras, do Campus Poeta Torquato Neto, em Teresina. Ele era Poeta, escritor, capoeirista, rapper e técnico em educação. Com inúmeras contribuições em sua área, o legado do professor será um referência para todos que compõem a comunidade acadêmica da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e uma inspiração para a sociedade.
Antes de todas essas atividades, o professor exerceu, dos nove aos vinte anos, o ofício de ferreiro, que aprendera com o pai. Apesar de ter deixado a profissão para estudar letras, em Brasília, Elio Ferreira não deixou de usar o ferro, o martelo e o fogo como instrumentos de trabalho, convertendo-os em algumas das imagens mais recorrentes em suas poesias.
Os trabalhos do professor deixaram uma marca para a sociedade. Ele foi curador do Projeto Roda de Poesia & Tambores e reunia música e poesia para disseminar obras de novos autores e escritores consagrados da literatura piauiense. A temática de seus poemas, que oscilam entre uma forte influência do concretismo e o uso de formas mais simples, é bastante vasta. Pode-se, no entanto, destacar neles a atestação do impacto da diáspora negra nas Américas, bem como a crítica política e social.
“[Escrever] é uma maneira de falar para o mundo, contar a história dos meus antepassados negros e a minha própria história, influindo e participando na transformação da sociedade através da denúncia contra as violências racial e social”, Elio Ferreira.
Publicações
O professor publicou os seguintes livros de poesia: Canto sem viola (1982), Poemartelos (o ciclo do ferro) (1986), O contra-lei (o ciclo do fogo) (1994), O contra-lei e outros poemas (1997) e América Negra (2004). Publicou também, em 2005, o livro Identidade e solidariedade na literatura do negro brasileiro: de Padre Antônio Vieira a Luiz Gama, com o qual obteve a primeira colocação no concurso de ensaios Mário Faustino, da Fundação Cultural do Piauí – FUNDAC. Alguns dos trabalhos estão disponíveis na Editora da UESPI.
Estudioso da cultura e literatura afro-brasileiras, concluiu, em outubro de 2006, sua tese Poesia negra das Américas: Solano Trindade e Langston Hughes, recebendo o título de Doutor em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco.
Elio Ferreira na UESPI
O professor foi um dos idealizadores do Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro – NEPA, que tem como principal objetivo promover e defender a pesquisa acadêmico-científica, priorizando pesquisadores e pesquisadoras negros e negras. Tratando sobre temas de interesse do direto das populações negras no Piauí, além de abranger questões relevantes para a construção e ampliação do conhecimento humano. O professor definia o Núcleo como “Uma proposta que se pense de uma forma mais efetiva na questão do racismo”.
O legado do professor Elio Ferreira foi lembrado na edição do UESPI na Mídia, desta semana, já disponível no Youtube.
Brasil,
meu Brasil Negro.
Sou Esperança Garcia do Piauí:
escrava da fazenda Algodões da Coroa
de Portugal,
casada e mãe de dois filhos.
A escola é maçã proibida para
escravos:
de cada cem ou mil,
um de nós sabemos ler ou escrever. Elio Ferreira