Por Ayeska Rodrigues
No último domingo, o tema das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) trouxe à luz um debate essencial sobre os desafios da valorização da cultura africana no Brasil. Neste contexto, o Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro da Universidade Estadual do Piauí (NEPA), fundado em 2005, assume uma relevância crucial ao promover reflexões e ações voltadas para a educação e a conscientização sobre a rica herança cultural africana.
A patrimônio cultural africano é uma das mais significativas influências na formação da identidade brasileira. Entretanto, sua valorização enfrenta obstáculos como o racismo estrutural, a falta de representação adequada nas mídias e a resistência em se aceitar a diversidade cultural como parte integrante da sociedade. Essas barreiras foram discutidas no ENEM, onde os participantes foram desafiados a pensar criticamente sobre como a cultura africana pode ser melhor integrada e valorizada em um país que possui profundas raízes africanas.
O NEPA se destaca neste cenário ao atuar como um espaço de pesquisa e formação, promovendo estudos sobre literaturas africanas e afro-brasileiras. Com uma estrutura que envolve alunos e professores do curso de Licenciatura Plena em Letras Português da UESPI, o núcleo busca não apenas cumprir a Lei 10.639, sancionada em 2023, mas também ir além, capacitando discentes e pesquisadores a engajar-se na luta contra a discriminação e a valorização da diversidade étnico-racial.
O coordenador do NEPA, professor Feliciano José Bezerra, ressaltou a importância de iniciativas que envolvem a comunidade acadêmica e escolar. “A valorização da cultura africana não deve ser vista apenas como uma obrigação legal, mas como uma oportunidade de enriquecimento cultural e educacional para todos. Nossos projetos estão voltados para integrar essa temática de forma prazerosa e educativa, buscando despertar a curiosidade e o respeito pela diversidade que nos compõe”, afirmou.
Além de desenvolver pesquisas, o NEPA também organiza eventos científicos, palestras e workshops que visam fomentar a discussão sobre a presença da cultura africana nas salas de aula e na sociedade. Recentemente, o núcleo promoveu uma jornada de estudos que abordou a literatura africana contemporânea e suas influências na formação de identidades. O evento contou com a participação de experts da área e atraiu estudantes de diferentes cursos, evidenciando um interesse crescente pela temática.
“O NEPA desempenha um papel crucial ao promover o debate sobre essa temática. Tornou-se cada vez mais essencial engajar a juventude em reflexões que promovam o letramento racial e o reconhecimento da diversidade cultural do Brasil. Isso não apenas amplia a consciência histórica e social dos jovens, mas também contribui para a construção de uma identidade cultural mais inclusiva e emancipatória”, destaca o professor Feliciano José.
A Lei 10.639, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nas escolas, é uma conquista significativa no combate ao apagamento da contribuição africana na formação cultural do Brasil. Contudo, a implementação efetiva dessa legislação ainda enfrenta desafios práticos nas instituições de ensino, seja pela falta de materiais didáticos apropriados, seja pela resistência por parte de alguns educadores em abordar a temática.
O NEPA, com sua atuação proativa, busca atuar como um agente de transformação, propondo práticas pedagógicas inovadoras que valorizem a cultura africana e promovam a diversidade dentro da sala de aula. O núcleo enfatiza que, ao educar sobre a cultura africana, não apenas se faz justiça à história, mas também se constrói uma sociedade mais justa e equitativa.
Este esforço conjunto entre instituições de ensino, pesquisadores e a sociedade civil é fundamental para garantir que a valorização da cultura africana no Brasil não seja apenas um tema sazonal, mas uma realidade contínua e celebrada em todas as esferas sociais. Assim, a luta pela valorização da cultura africana é um desafio permanente que exige a atenção e o envolvimento de todos.