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UESPI lamenta falecimento da arqueóloga Niède Guidon, referência mundial em pré-história

Por: Eduarda Sousa 

Faleceu nesta quarta-feira (4), aos 92 anos, a arqueóloga Niède Guidon, uma das maiores referências mundiais em pré-história. Reconhecida internacionalmente, ela dedicou sua vida ao estudo da região da Serra da Capivara, no Piauí, e suas contribuições transformaram a arqueologia brasileira.

Imagem: Reprodução / Internet

Em 1973, Guidon iniciou suas pesquisas na região após firmar parceria com o governo francês para a criação de uma missão arqueológica no Brasil. Ao longo de décadas de trabalho, coordenou escavações que revelaram mais de 1.200 sítios arqueológicos, com destaque para abrigos rochosos com pinturas rupestres datadas de até 25 mil anos. Essas descobertas desafiaram teorias clássicas sobre o povoamento das Américas, defendendo a possibilidade de presença humana no continente há cerca de 100 mil anos.

Além da importância científica, Niède também foi responsável pela fundação da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), sediada em São Raimundo Nonato (PI). A instituição se tornou um polo de pesquisa e desenvolvimento local, contribuindo com projetos de educação patrimonial, preservação ambiental e inclusão social por meio da ciência.

A professora Viviane Marini, pesquisadora da área de arqueologia da UESPI, destaca que Niède Guidon foi responsável por colocar o Piauí no centro dos debates arqueológicos internacionais, especialmente por propor novas teorias sobre o povoamento das Américas. “Não só no Brasil, como no mundo, ela colocou o Piauí em um cenário de importância nacional e internacional. Isso porque, com seus achados na Serra da Capivara, Niède trouxe inovações à discussão sobre o povoamento do continente americano. Suas pesquisas propuseram uma nova concepção sobre as temporalidades e rotas migratórias humanas, quebrando paradigmas antigos como a teoria da entrada do homem pelo estreito de Bering. Ela elaborou novas teorias a partir de evidências locais, o que promoveu uma verdadeira revolução na forma como entendemos a presença humana nas Américas”, afirmou.

A docente também enfatiza que o impacto de Niède Guidon ultrapassou o campo científico. Sua atuação foi decisiva para a criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, em um processo que envolveu tanto a proteção ambiental quanto o diálogo com as comunidades locais. “Além do legado arqueológico das pesquisas e de toda uma escola que ela promove de arqueologia no Piauí e no mundo, é preciso olhar para sua trajetória e compreender o papel fundamental que teve na formação do Parque Nacional da Serra da Capivara. Ela valorizou os achados arqueológicos como parte do patrimônio cultural brasileiro e promoveu a conscientização das populações locais sobre a importância da preservação desses vestígios”.

Imagem: Reprodução / Internet

Conexão com a UESPI: ensino, pesquisa e extensão inspirados por seu legado

A Universidade Estadual do Piauí (UESPI), como instituição comprometida com o desenvolvimento regional, mantém ações acadêmicas diretamente ligadas à área de atuação de Niède Guidon. Cursos como História e Geografia realizam visitas técnicas e atividades de campo no Parque Nacional da Serra da Capivara, com o objetivo de proporcionar aos estudantes uma vivência prática e multidisciplinar sobre a importância histórica, científica e cultural da região.

Além das atividades pedagógicas, docentes da universidade desenvolvem projetos de pesquisa vinculados ao parque. Um exemplo é o projeto “Registros de Angiospermas do Parque Nacional da Serra da Capivara”, que cataloga espécies vegetais da região e envolve estudantes em práticas científicas ligadas à biodiversidade e conservação ambiental.

Legado reconhecido por lideranças acadêmicas

O reitor da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), professor Evandro Alberto, destacou a dimensão do legado deixado por Guidon, tanto para a ciência quanto para a cultura brasileira. “Niède Guidon contribuiu profundamente para a história e para a humanidade. Até então, acreditava-se que o homem americano teria chegado há cerca de 14 mil anos, mas os estudos dela indicam registros de presença humana com mais de 50 mil anos. Ela mudou a história. Mas sua atuação foi além da arqueologia, Niède foi uma defensora da cultura, da fauna e da flora piauiense. Dedicou sua vida à região de São Raimundo Nonato, uma grande pesquisadora, uma mulher guerreira e forte, que inspira gerações. Acreditava que, através do estudo e da preservação da natureza, seria possível enriquecer não só a história, mas também preservar a humanidade. Que sua memória esteja sempre presente nos achados da Serra da Capivara, do Parque Sete Cidades, onde ela atuou com tanto empenho. A natureza agradece o trabalho da Niède Guidon”, afirmou.

A diretora do campus Prof. Ariston Dias Lima de São Raimundo Nonato, Janilde Melo ressaltou o impacto de Guidon para a arqueologia e o meio ambiente local. “Niède Guidon deixa um grande legado de conhecimento científico voltado para a história do homem pré-histórico do Brasil, sendo pioneira em defender com base arqueológica o povoamento do continente americano, contribuindo também para a conservação da fauna e flora do Piauí e do domínio fitogeográfico da Caatinga”.

Imagem: Reprodução / Internet

A Universidade Estadual do Piauí se solidariza com familiares, amigos e admiradores de Niède Guidon, e reforça seu compromisso em manter viva a memória e o impacto do trabalho dessa grande cientista, que transformou a história da arqueologia no Brasil e projetou o Piauí no cenário internacional da ciência.