Por: Lucas Ruthênio
Na tarde do dia 11 de junho de 2025, os corredores da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), campus Parnaíba, deixaram de ser apenas espaços de passagem para se tornarem cenário de uma imersão inovadora que uniu ensino, tecnologia e ludicidade: o UESPI Game Show.
A atividade foi organizada como culminância da disciplina de Computação Gráfica, ministrada pelo professor Dario Calçada, e teve como proposta desafiar os estudantes a desenvolver jogos eletrônicos autorais inspirados na vida universitária e conectados ao conteúdo aprendido ao longo do semestre.
O projeto foi pensado para extrapolar os limites da sala de aula, proporcionando aos alunos uma vivência prática e criativa, com ênfase na construção de experiências significativas. “A ideia é sempre juntar o conhecimento acadêmico com o que tem no mercado. A parte de jogos é muito importante nisso, é um mercado amplo, com muitas oportunidades”, destacou o professor Dario, que também atua no GEDAI (Grupo de Estudo e Desenvolvimento de Aplicações Inteligentes). Segundo ele, o principal objetivo era fazer com que os conteúdos vistos em aula ganhassem vida e utilidade real. “É importante que as disciplinas tenham uma utilidade que extrapole os muros da universidade”, completou.
Entre os diversos projetos apresentados, dois se destacaram por abordagens complementares: enquanto um grupo criou um jogo narrativo inspirado diretamente no cotidiano da UESPI, outro reinventou o clássico jogo de tabuleiro Ludo, adaptando-o com elementos culturais e desafios intelectuais.
No primeiro caso, o estudante Francisco Mendes e sua equipe desenvolveram um jogo ambientado na própria universidade, no que chamaram de “último dia de faculdade”. A proposta era simples, mas potente: o jogador deveria cumprir tarefas, enfrentar obstáculos e interagir com professores para conseguir se formar — tudo isso em uma versão gamificada da rotina universitária. “Queríamos criar algo que fosse divertido, mas também representasse a realidade de quem enfrenta os desafios da graduação”, explicou Francisco.

Estudantes da UESPI testam jogos criados por eles mesmos, programação, criatividade e diversão no mesmo jogo.
O projeto envolveu o mapeamento visual do campus Parnaíba, com registro fotográfico de salas, corredores e áreas comuns, que foram convertidos para o estilo pixel art dentro do game. “Cada cenário foi pensado para que os jogadores se sentissem realmente dentro da UESPI”, disse. Além disso, personagens icônicos do cotidiano, como a Tia da Cantina, o Tio da Vitamina e os professores, foram adaptados com personalidades próprias, representando funções e obstáculos dentro do jogo.
O grupo utilizou o RPG Maker como plataforma e empregou conhecimentos de JavaScript, lógica de programação, estrutura de dados e conceitos gráficos como colisões, movimentação e manipulação de sprites. A proposta conquistou o segundo lugar no evento, com destaque para a originalidade da ideia e o impacto emocional que causou no público. “Mais do que um trabalho da disciplina, o projeto virou um ponto de virada. Mostrou que sim, é possível transformar nossas ideias em experiências reais e jogáveis”, declarou Francisco.

UESPI: Em Busca do Diploma. Estudantes transformam a vida universitária em uma aventura digital.
Já o grupo da estudante Hellen Jasmine adotou uma abordagem diferente, mas igualmente criativa. Inspiradas pela nostalgia do jogo de tabuleiro Ludo, duas integrantes do time, Helena e Lorena, propuseram uma reinvenção da mecânica clássica, aliando sorte, estratégia e conhecimento. “Nossa principal inspiração veio da paixão compartilhada pelo Ludo. Decidimos reimaginar essa experiência, criando um sistema de quiz com perguntas temáticas que exigem raciocínio lógico e conhecimento específico”, contou Hellen.
A versão final do jogo ganhou uma estética junina, com interface vibrante, trilha sonora animada e foco em disputas amistosas entre jogadores. “O processo de criação foi bastante iterativo. Combinamos os elementos clássicos do Ludo com a pressão do quiz e a ambientação junina para criar uma experiência de competição amigável, perfeita para jogar entre amigos”, explicou.
No aspecto técnico, o grupo utilizou scripts em Python, bancos de dados para organização das perguntas e buscou referências em UI/UX e psicologia das cores para desenvolver uma interface atraente e intuitiva. A inteligência artificial também foi usada como ferramenta auxiliar em tarefas como brainstorming de ideias e revisão de textos. “Foi um projeto multidisciplinar. A participação no UESPI Game Show nos deu uma visão real da área de desenvolvimento. Ver o público jogando e se engajando foi extremamente gratificante”, completou Hellen.

Alunos apresentam o Ludo Quiz, projeto que une diversão e aprendizado na UESPI.
Para o professor Dario, a experiência proporcionada pelo Game Show vai além da aplicação técnica. “O maior desafio foi o tempo curto de desenvolvimento, já que se tratava de uma disciplina semestral. Mesmo assim, os alunos entregaram resultados muito acima da média. A curva de aprendizado foi impressionante”, ressaltou.
Ele também pontuou o impacto humano da atividade. “Muitos alunos enfrentam dificuldades pessoais e emocionais durante a graduação. Um evento como esse renova o ânimo, gera pertencimento e autoestima. É onde a teoria se encontra com a criatividade e se transforma em motivação.”
O UESPI Game Show não apenas demonstrou o domínio técnico dos alunos, mas também serviu como uma vitrine para os múltiplos talentos que se formam dentro da universidade pública. Ao transformar os desafios da graduação em jogos imersivos, os estudantes mostraram que é possível aprender brincando e, mais ainda, ensinar enquanto se cria.