UESPI

Brasao_da_UESPI.512x512-SEMFUNDO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ

Governo-do-Piauí-2023_300X129

UESPI desenvolve projeto GIMMEVOX por meio do edital UESPITECH II, com foco em tecnologias assistivas inclusivas

Por: Lucas Ruthênio

O GIMMEVOX, projeto desenvolvido no âmbito da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e contemplado pelo edital UESPITECH II, desponta como uma das iniciativas mais promissoras no campo das tecnologias assistivas voltadas à comunicação aumentativa e alternativa (CAA) no estado.

A proposta integra a segunda edição do programa que financia soluções científicas e tecnológicas alinhadas às diretrizes do Plano de Desenvolvimento Econômico Sustentável Piauí 2050, fortalecendo ações inovadoras que impactam diretamente realidades sociais sensíveis. Com investimento de até R$ 25 mil para cada uma das propostas selecionadas, o edital incentiva o desenvolvimento de projetos que reforçam o papel da universidade pública como agente transformador, sobretudo em áreas como educação, saúde, tecnologia, inclusão social e inovação digital.

Tecnologia assistiva que nasce da vivência e da necessidade real

O GIMMEVOX surgiu a partir de uma necessidade real identificada por docentes e pesquisadores que lidam cotidianamente com crianças que enfrentam dificuldades complexas de comunicação, um público para o qual o acesso a recursos especializados ainda é significativamente limitado no Piauí.

O professor Alcemir Rodrigues explica que a concepção do projeto nasceu dentro do doutorado da professora Olívia Mafra, mãe atípica que vivencia diretamente os desafios vividos por crianças que não conseguem emitir voz, embora compreendam plenamente o ambiente ao redor. Segundo ele, “a ideia surgiu durante o doutorado da Profa. Olívia Mafra. Ela, mãe atípica, resolveu pesquisar sobre tecnologias assistivas durante o seu doutorado, que ainda está em andamento. No contexto piauiense, identificamos a partir da vivência da Profa. Olívia e da experiência da Profa. Nadja, na educação especial, que educadores e terapeutas têm dificuldade de acesso a esse tipo de tecnologia assistiva para educação e terapia de crianças com dificuldades complexas de comunicação”. Essa união entre vivência pessoal, prática profissional e pesquisa acadêmica moldou os alicerces da proposta, evidenciando a importância de soluções tecnológicas pensadas a partir da escuta da comunidade e das demandas concretas de quem convive com essas barreiras diariamente.

A construção do aplicativo foi orientada por critérios técnicos e pedagógicos cuidadosamente planejados para atender diferentes níveis de limitação comunicacional. O professor Alcemir Rodrigues destaca que a equipe optou por uma abordagem focada no essencial, concentrando o aplicativo em uma funcionalidade central de acesso imediato para o usuário. Ele explica que “o aplicativo gira em torno de uma única funcionalidade: emitir voz. Que é de onde vem o nome do mesmo. Crianças com necessidades complexas de comunicação, apesar de entenderem, não conseguem emitir voz. Pedagogicamente, o app deverá poder se adaptar ao nível de comunicação da criança”. Em vez de construir uma plataforma complexa e multifacetada, a equipe priorizou uma solução simples, direta e intuitiva, capaz de vocalizar frases digitadas ou selecionadas pela criança, facilitando sua interação com professores, familiares, terapeutas e colegas.

Usabilidade como eixo central da inovação

Para isso, o GIMMEVOX se fundamenta em tecnologias acessíveis, como o recurso nativo de smartphones conhecido como Texto-to-Speech, que transforma texto em áudio. Esse mecanismo permite que frases montadas no aplicativo sejam vocalizadas de forma clara e funcional, promovendo autonomia e independência para crianças que enfrentam barreiras comunicacionais. A proposta também se diferencia por considerar, desde o início, o contexto socioeconômico das famílias piauienses, reconhecendo que soluções inclusivas devem ser adaptáveis, configuráveis e sensíveis à realidade local. Como afirma o professor Alcemir Rodrigues, “o GIMMEVOX é uma aplicação que busca amadurecer a ideia de um dispositivo dedicado à vocalização de frases. Além disso, a ideia é que o aplicativo possa ser configurado pelas famílias atípicas e/ou terapeutas que supervisionarem o processo terapêutico e educacional”.

Embora o aplicativo ainda esteja em fase de desenvolvimento e não tenha sido finalizado, a equipe já planeja a etapa de validação em parceria com terapeutas, profissionais da educação especial e famílias atípicas. O professor Alcemir Rodrigues ressalta que essa etapa será decisiva, pois permitirá ajustes finos na usabilidade, na adaptação do conteúdo e na experiência geral do usuário. Ele explica que “o aplicativo ainda não está finalizado. Espera-se, como passos seguintes, contar com o apoio de terapeutas e famílias atípicas para a validação e refinamento do aplicativo”. Essa fase também envolve desafios importantes, especialmente no que diz respeito à modelagem do conteúdo e à adequação da ferramenta às diferentes particularidades comunicacionais de cada criança. De acordo com o docente, “o principal desafio tem sido a modelagem do conteúdo, de maneira a melhor se adequar às necessidades dos usuários. Temos tido contato recorrente com terapeutas e recorrido à literatura científica para detalhes específicos do aplicativo”.

A construção do GIMMEVOX também envolve uma forte articulação interdisciplinar que integra áreas como tecnologia, linguística, educação especial e design. Essa integração é fundamental para garantir que o aplicativo seja, ao mesmo tempo, funcional, claro, acessível e acolhedor. O professor Alcemir Rodrigues explica que “enquanto a linguística e a educação moldam o conteúdo do aplicativo, o design busca melhorar a apresentação do mesmo”, reafirmando que a eficácia de tecnologias assistivas depende de uma combinação multidisciplinar que leve em conta aspectos técnicos, pedagógicos, visuais e emocionais.

Os impactos sociais esperados com a implementação do GIMMEVOX são amplos e profundos. O professor Alcemir Rodrigues destaca que o objetivo central do projeto é democratizar o acesso a tecnologias assistivas no Piauí, ampliando a autonomia e a qualidade de vida de crianças que dependem de alternativas comunicacionais para expressar desejos, emoções e necessidades básicas. Ele afirma que “espera-se dar acesso a tecnologia assistiva a mais pessoas. Assim como toda tecnologia assistiva, a nossa pretende melhorar a qualidade de vida daqueles que dependem dela e de seus responsáveis, dando, principalmente, uma maior independência a eles”. A vocalização de frases simples pode transformar a rotina dessas crianças e seus cuidadores, reduzindo frustrações, fortalecendo vínculos e abrindo novas possibilidades de desenvolvimento cognitivo, educacional e socioemocional.

O papel do UESPITECH II no avanço da pesquisa

Imagem ilustrativa gerada por IA

O edital UESPITECH II foi determinante para o avanço do projeto, permitindo que a equipe tenha acesso a recursos essenciais para o desenvolvimento técnico da proposta. O financiamento viabiliza a aquisição de equipamentos necessários à prototipagem, modelagem e testes práticos, bem como acessórios voltados à ergonomia e adaptação dos dispositivos que serão utilizados na validação. O professor Alcemir Rodrigues destaca que “o edital permitirá a aquisição de equipamentos para a prototipagem e modelagens dos dispositivos dedicados, bem como de acessórios para a ergonomia dos smartphones a serem utilizados para o desenvolvimento e validação da aplicação”. Sem esses recursos, muitas etapas estruturais seriam inviáveis, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de um hardware próprio uma das metas do projeto.

Com relação ao futuro, a equipe enxerga perspectivas positivas de continuidade e expansão, com possibilidades de parcerias institucionais e aplicação prática em escolas, clínicas multidisciplinares e programas de educação especial. O professor Alcemir Rodrigues afirma que o objetivo é levar o GIMMEVOX para além dos muros da universidade e torná-lo uma ferramenta disponível em diferentes contextos terapêuticos e educacionais. Ele explica que “o aplicativo deverá ser comercializado, para escolas, clínicas, profissionais de terapia e educação especial de crianças com tais necessidades especiais. Pretende-se ainda construir um dispositivo dedicado, para não depender de smartphones”. A ideia é que a tecnologia desenvolvida na UESPI seja capaz de atender não apenas à demanda local, mas também se tornar uma referência regional e potencialmente nacional no campo das tecnologias assistivas de comunicação.

Assim, o GIMMEVOX se consolida como um projeto que sintetiza os objetivos do UESPITECH II: inovação alinhada à realidade local, pesquisa aplicada com impacto social e fortalecimento da UESPI como produtora de conhecimento comprometido com inclusão e desenvolvimento humano. O projeto, atualmente em fase de desenvolvimento, propõe um recurso de comunicação assistiva voltado a crianças com dificuldades complexas de fala, e segue avançando conforme as etapas técnicas previstas pela equipe responsável. Com a continuidade das pesquisas e dos testes de validação, a iniciativa poderá subsidiar futuras aplicações em contextos educacionais e terapêuticos, dependendo dos resultados obtidos ao longo do processo.