Por: Lucas Ruthênio
A Universidade Estadual do Piauí (UESPI), por meio do Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro (NEPA/UESPI), deu início ao curso de especialização em Especialização em Literaturas, Histórias e Culturas Afro-Brasileiras, Africanas e Indígenas, com o objetivo de capacitar professores e profissionais da Educação Básica para ampliar a compreensão e o ensino dessas temáticas no contexto escolar, promovendo uma educação antirracista, inclusiva e de valorização das identidades étnico-raciais.
A professora Julia Cunha, secretária da especialização, destaca que “o curso cumpre as Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008, trazendo uma abordagem decolonial e antirracista, baseada na visão de mundo do negro e do indígena, com o objetivo de combater o racismo estrutural e o preconceito”.
Entre os diferenciais do curso, a professora Julia Cunha ressalta a experiência do NEPA, que atua há 19 anos na área, e o corpo docente qualificado, composto majoritariamente por doutores da UESPI e de outras universidades, além da participação de membros de comunidades quilombolas e indígenas. “O curso incentiva a produção de artigos científicos e didáticos pelos alunos, com apresentação em eventos como o ‘ÁFRICA BRASIL’, para que o conhecimento gerado tenha impacto real na educação e na sociedade”, afirma a professora. Ela também destaca a parceria com a Secretaria de Educação do Estado do Piauí (SEDUC), voltada para docentes e técnicos das duas instituições.
A grade curricular inclui disciplinas como História da África, Filosofia Africana, Literatura Afro-Brasileira, Educação Antirracista, Legislação e Ações Afirmativas, Literatura Indígena e Religiões de Matriz Africana no Brasil. O professor Marcos James, aluno da especialização, relata que o curso tem sido fundamental para repensar sua prática docente. “Desconstruir nossas visões estereotipadas e reconhecer como a educação tradicional marginalizou essas culturas exigiu uma revisão crítica de conceitos internalizados. Pesquisar fontes e acervos nos permitiu compreender a riqueza das culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas, bem como a luta anticolonial como ferramenta de resistência e afirmação identitária”, explica.
Marcos acrescenta que a especialização também proporciona a aplicação prática do conhecimento. “A elaboração de planos de aula interdisciplinares e os debates sobre a aplicabilidade das Leis 10.639/03 e 11.645/08 nos ajudaram a transpor a barreira entre teoria e prática. Passamos a valorizar autores como Djamilia Ribeiro e Daniel Munduruku de forma estrutural, não apenas temática, e a integrar oralidade e saberes ancestrais nas aulas”, afirma.
Além disso, os alunos têm acesso a bibliotecas físicas e digitais, incluindo o acervo do NEPA/UESPI e a Coleção ÁFRICA BRASIL, e participam de seminários, rodas de conversa e debates que enriquecem a formação. a secretária do curso professora Julia Cunha reforça que “o curso busca formar profissionais comprometidos com uma educação que valorize a identidade e a história dos povos afro-brasileiros, africanos e indígenas, promovendo uma prática docente antirracista e inclusiva”.
A especialização é destinada a professores e profissionais da Educação Básica, bem como egressos de instituições de ensino superior das redes pública e privada do Piauí. O perfil ideal, segundo a professora, envolve interesse genuíno em aprofundar conhecimentos sobre literaturas, histórias e culturas afro-brasileiras, africanas e indígenas, além de abertura para revisão de convicções. Marcos James acrescenta que é fundamental “participar de grupos de estudo, explorar acervos digitais e presenciais, frequentar eventos culturais e se conectar com colegas e comunidades na luta antirracista e indigenista. A transformação é gradual, mas urgente”.