Por Vitor Gaspar
A equipe do Núcleo de Estudos e Documentação em História, Sociedade e Trabalho (NEHST) da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), realizou um processo de digitalização do acervo do Centro Piauiense de Ação Cultural (CEPAC/PI).
A ação é resultado de um projeto intitulado “Salvaguarda e Digitalização do Acervo Documental do CEPAC – PI”, financiado pelo SIEC/SECULT e Equatorial-PI. A proposta contou com a colaboração de 10 bolsistas e foi coordenado pela Prof. Dra. Cristiana Costa da Rocha que destacou o material como uma coleção rara de documentos que abordam movimentos sociais e populares, tanto rurais quanto urbanos, no estado do Piauí durante as décadas de 1970 e 1990. Além disso, afirma também há registros após os anos 2000, embora em menor quantidade.
“Esse conjunto inclui cerca de 200 títulos de jornais e periódicos, fotografias, panfletos, atas, relatórios internos e outros documentos que tratam das experiências, lutas políticas, resistências, organizações sindicais e várias outras questões. A documentação está distribuída em 80 caixas e, após a digitalização, está disponível na página do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Tecnologia e Cultura para consulta, beneficiando tanto estudantes e pesquisadores quanto líderes e agentes sociais que têm interesse direto nesse valioso acervo de caráter memorialístico”.
Esse conjunto, que começou a ser formado através de doação do Professor e Sociólogo Antônio José Castelo Branco Medeiros, classificado como uma relíquia sobre a história dos movimentos sociais no estado do Piauí no período citado.
Geovana Moraes Cardoso, bolsista, compartilhou sua experiência enfatizando como teve a oportunidade de vivenciar a história por meio do abrangente acervo do NEHST, o qual incorpora uma variedade de elementos da sociedade, muitas vezes esquecidos ao longo do tempo.
“É, de fato, um incentivo estar presenciando a história, eu, como estudante de história, estar aqui no núcleo, no meio de um acervo incrível, é um grande estímulo. É um rico material que está nas nossas mãos e futuramente disponível para que outros estudantes, pesquisadores e qualquer pessoa que queira saber da luta dos movimentos sociais tenha contato, pois a construção desse material foi árdua e cansativa, dedicamos tempo, cuidado e bastante empenho em entregar algo que as pessoas olhem e sintam interesse em tais documentos, que eu diria que são as vísceras da nossa sociedade piauiense, da nossa história”, afirma.
O CEPAC/PI surgiu durante um momento de efervescência dos movimentos sociais, particularmente no campo, quando o movimento sindical reformista ganhou força e mobilização. O acervo, agora resguardado pelo NEHST, é considerado por pesquisadores da área como o maior e possivelmente o mais importante conjunto de documentos sobre movimentos sociais no estado.
Hortência Almeida enfatizou que, logo após receberem os documentos, incluindo jornais, relatórios, livros e outros materiais, a equipe iniciou o processo de higienização minuciosa dos materiais. Em seguida, organizaram todos os documentos em caixas, seguindo uma ordem alfabética criteriosa, e detalharam os títulos de cada arquivo nas respectivas caixas. Além disso, realizaram uma leitura inicial dos documentos e meticulosamente registraram o conteúdo de cada caixa e de cada fonte em arquivos digitais, incluindo informações como ano, autoria e assunto.
“Participar desse projeto foi de suma importância para minha formação , tal como a conscientização da relevância da preservação dos acervos, em especial este do NEHST, para a história da sociedade piauiense e também como subsídio para pesquisas em diversas áreas de pesquisa como sociedade, cultura e educação”.
Esse conjunto tem se tornado uma fonte crucial de pesquisa para estudantes, pesquisadores, líderes e agentes sociais. Ele fornece informações sobre as experiências, lutas políticas, resistências, migrações e organizações sindicais que moldaram tanto as comunidades urbanas quanto rurais no Piauí se configurando um registro vivo da luta e da perseverança do povo piauiense ao longo das décadas.
Uma das características presentes é a diversidade de narrativas, que vão além dos discursos padrões já conhecidos, e para falar sobre isso, o bolsista Antonio Oliveira Filho menciona que muitas vezes, a história tradicional é vista como a “história dos vencedores”, questionando quem determina quem são esses vencedores e perdedores em contextos frequentemente desproporcionais e injustos. Ele enfatizou a necessidade de documentar e valorizar as perspectivas daqueles cujas vozes não foram ouvidas ou validadas ao longo da história.
“Assim, nasce essa nova corrente na história focada como diria Thompson, numa história vista de baixo, narrativas e perspectivas daqueles que não tiveram sua voz ouvida ou validada”, comenta o discente.
A lista dos bolsistas que participaram do projeto é composta por : Antonio Oliveira Rocha Filho, Francisco Rayram dos Santos Vilanova, Geovana Moraes Cardoso, Helane Karoline Tavares Gomes, Hortência Almeida Medeiro da Rocha, Lucas Ramyro Gomes de Brito, Mateus Carvalho dos Santos, Milena de Araújo Leite, coordenado pela Prof. Dra. Cristiana Costa da Rocha.