Por: Ayeska Rodriguez
A Universidade Estadual do Piauí (UESPI) viveu, nesta terça-feira, 21 de outubro, um momento histórico durante o I Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão, realizado no Hotel Blue Tree Towers, em Teresina. Pela primeira vez, foi entregue o Prêmio Niede Guidon, criado para reconhecer e celebrar o protagonismo de mulheres cientistas que, com dedicação e excelência, têm contribuído para o fortalecimento da produção científica e cultural no estado e no país. Nesta edição inaugural, o prêmio foi concedido às professoras Algemira de Macêdo Mendes e Maria Ângela Arêa Leão Ferraz, pesquisadoras da própria UESPI, cujas trajetórias se destacam pela relevância acadêmica e pelo compromisso com a formação de novas gerações de estudiosos.
A criação do Prêmio é um marco simbólico e institucional. Leva o nome de uma das maiores cientistas brasileiras, a arqueóloga Niede Guidon, reconhecida internacionalmente por seu trabalho à frente do Parque Nacional da Serra da Capivara e por sua luta incansável em defesa da ciência, da cultura e da preservação do patrimônio histórico. A homenagem à arqueóloga transcende o reconhecimento individual: representa o esforço coletivo da universidade em valorizar as mulheres que constroem conhecimento em contextos muitas vezes adversos, desafiando desigualdades históricas e abrindo caminhos para uma ciência mais plural e inclusiva.

Entre as agraciadas, a professora Algemira de Macêdo Mendes personifica esse compromisso com a pesquisa e com a difusão do saber literário. Doutora em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio de doutorado sanduíche em Coimbra, Portugal, ela é professora associada IV da UESPI e professora emérita da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Com dois estágios de pós-doutorado realizados na Universidade de Lisboa — o primeiro em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e o segundo, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sobre escritoras luso-africanas nos séculos XX e XXI —, sua trajetória é marcada por uma sólida contribuição à crítica literária e aos estudos sobre autoria feminina.
Algemira coordena o Núcleo de Estudos Literários Piauienses (NELIPI) e é membro de diversos conselhos editoriais e grupos de pesquisa nacionais e internacionais. Também integra o CLEPUL, da Universidade de Lisboa, e a diretoria da Associação Internacional de Estudos Literários e Culturais Africanos (AFROLIC), além de ser Bolsista de Produtividade do CNPq. Sua produção acadêmica tem revelado escritores e escritoras esquecidos pela historiografia literária, valorizando a memória cultural do Piauí e das literaturas de língua portuguesa. Em suas palavras, o reconhecimento chegou como uma surpresa, mas também como a confirmação de uma longa jornada de trabalho silencioso e consistente.
“Esse prêmio, na verdade, para mim, foi uma surpresa, porque a gente faz um trabalho sem pretensões, um trabalho movido pela curiosidade e pelo amor à pesquisa. Desde 2008, desenvolvemos projetos com alunos de graduação e, depois, de mestrado, levantando textos de escritoras e escritores piauienses dos séculos XIX e XX que ficaram fora do cânone literário. São pesquisas bibliográficas, um verdadeiro rastreamento em jornais e documentos. Os resultados se transformaram em livros, dissertações, teses, seminários e em um rico acervo disponível no NELIPI. Saber que esse trabalho tem alcançado visibilidade dentro e fora do estado é muito gratificante. Esse prêmio, mais do que pessoal, é coletivo — é o reconhecimento de todos os estudantes e pesquisadores que trilharam esse caminho conosco”, afirmou a professora.
A segunda homenageada, Maria Ângela Arêa Leão Ferraz, representa uma trajetória de solidez e compromisso com o conhecimento científico e a transformação social.
Possui Graduação em Odontologia, Especialização em Endodontia, Docência Superior, Metodologias Ativas e Práticas Integradoras, Mestrado em Ciências e Saúde, Doutorado em Endodontia. É professora Associado I DE do curso de Odontologia da UESPI. Exerceu cargo de Representante Docente do Campus UESPI Parnaíba no CEPEX/CONSUN, exerceu cargo de Coordenadora do Curso de Odontologia da Universidade Estadual do Piauí. Tem experiência na área de Odontologia, com ênfase em Endodontia e Pacientes Especiais.
“Receber o Prêmio Niede Guidon, em sua primeira edição, representa o reconhecimento de uma trajetória construída na universidade pública, no interior do Piauí, marcada pelo rigor científico, pela sensibilidade e pela responsabilidade social. Como mulher pesquisadora, este prêmio simboliza permanência e resistência em espaços historicamente desafiadores para a liderança feminina na ciência. É também um gesto coletivo, que reflete o esforço de cada professor colaborador, de cada estudante orientado e de cada projeto submetido. Assim como Niede Guidon deixou um legado científico para o Brasil, com um olhar atento ao território e à identidade, entendo este reconhecimento como um chamado para seguir formando novas cientistas, ampliando oportunidades e afirmando que a ciência feita no Piauí tem potência, voz e relevância nacional.”disse Maria Ângela.
A entrega do Prêmio Niede Guidon durante o I Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão da UESPI simboliza a maturidade científica da instituição e o fortalecimento de uma cultura acadêmica que reconhece a relevância das mulheres na produção do conhecimento.
Mais do que uma homenagem, o prêmio representa um gesto de resistência e esperança. Em um cenário em que a ciência ainda enfrenta desigualdades estruturais, reconhecer o trabalho de mulheres como Algemira e Ângela é reafirmar que a produção de conhecimento não se limita aos laboratórios, mas também nasce das bibliotecas, dos arquivos, das salas de aula e das experiências que constroem a memória coletiva. Assim como Niede Guidon, que desbravou o sertão do Piauí em nome da ciência, as homenageadas carregam consigo a força de quem transforma o cotidiano em descoberta e o saber em legado.