Por Priscila Fernandes
“Ninguém consegue andar sozinho, mas se mantermos a humildade e a curiosidade de buscar o conhecimento podemos chegar aonde nosso pensamento não alcança”, disse João Ferreira dos Santos, recém-formado no curso de Agronomia pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) do Incra em parceria com a Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Ele ficou em primeiro lugar no processo seletivo para ingressar no Mestrado em Zootecnia Tropical, na Universidade Federal do Piauí (UFPI).
João dos Santos se formou na primeira turma do curso de Agronomia da UESPI, campus de Parnaíba, em junho de 2021. O jovem, que é morador da comunidade Triunfo no município de Milton Brandão, tem uma relação antiga com o campo. Ele conta que já vinha de uma Escola Família Agrícola e construiu uma experiência prática, mas foi na UESPI que teve a fundamentação teórica e a possibilidade de aprender algo novo.
“O PRONERA e a UESPI foram fundamentais pela oportunidade que me foi proporcionada , sobretudo pela qualidade dos profissionais (Professores) do Campus Alexandre Alves de Oliveira. A expectativa é muito grande, saber que venho do campo e continuar no pensamento de melhorar ainda mais as atividades desse campo, ao mesmo tempo é um desafio, pois sei das dificuldades que virão, cresce o sonho, mas as responsabilidades são muito maiores também”, relata.
No edital que o agrônomo participou, foram ofertadas 12 vagas. João apresentou sua dissertação na linha pesquisa na linha de Nutrição de não-ruminantes (aves e caipira). Ele escolheu a essa área em busca de respostas para uma investigação científica a partir de alimentos alternativos. “Esse é um dos principais desafios dos produtores, visto que as rações se baseiam em milho grão e farelo de soja que condicionam fortes oscilação de preço durante o ano e o estudo de alimentos alternativos podem baratear os custos e não perder o desempenho das aves”, explica.
O professor Valdinar dos Santos, coordenador do curso de Agronomia, parabeniza o ex-aluno e se orgulha da sua conquista. “Esse resultado é mais uma vitória do João Ferreira, dos movimentos sociais envolvidos no projeto e da Uespi. Formamos a primeira turma de Agronomia de filhos e filhas de agricultores/agricultoras da reforma agrária, isso é um marco para a universidade. O poeta Joãozinho, como o chamamos carinhosamente, é um exemplo de incentivo para educação do campo e fonte expiradora para novos jovens oriundos de Escola Agrícola da Familia”, ressalta.
As aulas do mestrado já iniciam nesse mês de agosto de 2021, no campus da UFPI de Teresina. O, agora mestrando, João dos Santos, finaliza desejando que outras turmas possam vir e que a UESPI, em parceria com o INCRA possa continuar transformando a vida de outros jovens do campo. “Que essa tenha sido a primeira turma de muitas em Educação no Campo. São muitos jovens do campo que precisam somente de uma oportunidade para produzir, estudar, empreender e fazer a diferença no nosso estado”.
O Pronera
O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) é um programa do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), em parceria com a UESPI oferece a graduação em Pedagogia, Agronomia e Geografia para pessoas do campo. A duração dos 3 cursos ofertados é de quatro anos, divididos em “Tempo Escola” (em sala de aula) e “Tempo Comunidade” (atividades na comunidade).
A ideia é que as pessoas que vivem nos espaços rurais não precisem se dirigir até a capital para ter a oportunidade de estudar e também possam ajudar a fazer crescer o local onde vivem.
A Coordenadora da Educação do Campo e do Pronera/UESPI, Waldirene Lopes, destaca que o Pronera é resultado da luta de movimentos sociais do campo e, dessa forma, traz em sua proposta de formação princípios que se referem a respeito, liberdade e humanidade.
“O Pronera combina a alternância e a itinerância de tempos e espaços proporcionando ao educando e todos os demais sujeitos envolvidos como professores, funcionários, entre outros, a oportunidade de conviver em coletividade preparando para a realidade da vida profissional e cotidiana. A UESPI tem turmas deste programa desde 2015 nas áreas de geografia, pedagogia e agronomia”, conta.
A coordenadora almeja que a história de João e sua aprovação seja replicada mais e mais vezes. “A aprovação do nosso educando da Agronomia é resultado de empenho pessoal dele próprio e do zelo da equipe pedagógica envolvida em assegurar que o povo camponês, quilombola, ribeirinhos, assentados, tenham cada vez mais, oportunidades de ter uma formação acadêmica de qualidade e capaz de reforçar suas referências de origem”, finaliza a professora.