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I Mostra de Projetos de Ensino de História reúne projetos pedagógicos na UESPI

Por: Lucas Ruthênio

A Universidade Estadual do Piauí (UESPI) realizou, no dia 19 de novembro, a I Mostra de Projetos de Ensino de História, um evento que marcou o ápice de um processo de dois anos de experimentação pedagógica conduzido nas disciplinas de Metodologia do Ensino de História e Práticas Pedagógicas.
A mostra funcionou como um espaço de síntese formativa, oferecendo ao público acadêmico a oportunidade de acompanhar como os estudantes construíram abordagens didáticas capazes de articular debates historiográficos contemporâneos, referências da BNCC e o uso de múltiplas linguagens pedagógicas.

Em torno do eixo temático “Guerras, Conflitos e Revoluções”, escolhido por dialogar tanto com o currículo escolar quanto com o calendário de efemérides históricas, especialmente os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, os alunos apresentaram doze subprojetos desenvolvidos ao longo do semestre, consolidando não apenas produtos pedagógicos, mas uma reflexão profunda sobre o papel do professor de História e da pesquisa no cotidiano escolar.

Desde as primeiras horas da manhã até o fim da tarde, o Centro de Ciências Humanas e Letras (CCHL), no campus Torquato Neto, manteve suas salas tomadas por pôsteres, microaulas, apresentações e discussões que revelaram a variedade de estratégias metodológicas exploradas pelos estudantes. Cada grupo apresentou um recorte específico dentro da temática macro, demonstrando domínio teórico, repertório historiográfico, compreensão da BNCC e capacidade de traduzir conteúdos complexos para linguagens acessíveis aos estudantes da educação básica.

Esse esforço de mediação aparece como um dos elementos centrais da proposta, como explica a professora Clarisse Sousa, idealizadora da atividade, ao destacar que a Mostra simboliza o amadurecimento de um percurso formativo iniciado ainda em 2023. Antes de apresentar suas considerações ao público, a docente relembrou que o projeto foi estruturado em três etapas, discussões teóricas sobre ensino de História, elaboração fundamentada de planos de aula e produção de microaulas orientadas pelo uso de linguagens diversas, modelo pensado para aproximar os alunos da prática profissional desde o início da graduação.

Em sua fala, a professora Clarisse Sousa enfatizou que essa construção coletiva reflete não apenas técnica pedagógica, mas também o entendimento ampliado do que significa produzir ciência em História. “Bom, esse trabalho já veio em desenvolvimento há dois anos na universidade, na disciplina de metodologia do ensino e de prática pedagógica. E nesse semestre, os alunos de metodologia e prática pedagógica 2 aceitaram o desafio de, além da gente trabalhar em sala de aula com esse projeto, a gente pudesse expor para a comunidade”, explicou. Ao aprofundar sua reflexão, a docente detalhou ainda os motivos que levaram à escolha do tema macro e os critérios que orientaram o processo.

“Como esse ano a gente está comemorando o Brasil todo, o mundo todo, o final da guerra, dos 80 anos da guerra, a gente resolveu comemorar de uma outra forma, vamos fazer o uso desse macro tema, guerras, conflitos e revolução. E vocês, dentro desse macro tema, escolham temas, conteúdos históricos do ensino fundamental para trabalhar isso por meio de micro aulas”, afirmou, destacando que a intenção era permitir aos alunos a vivência de uma prática que unisse teoria, crítica e materialidade didática. Ao final, a professora Clarisse Sousa reforçou a dimensão científica desse tipo de produção: “Muitas vezes a gente acha que fazer ciência, quando está se falando de história, tem que ir para o arquivo, né? (…) Mas a gente em sala de aula, trabalhando, analisando, fundamentando materiais didáticos, isso também é ciência, isso também é pesquisa, e isso também pode ser mostrado através de um trabalho extensionista, como a gente está fazendo agora”.

A participação discente na organização do evento também ganhou destaque, revelando não apenas o engajamento dos estudantes, mas a compreensão de que ações extensionistas demandam coordenação, planejamento e corresponsabilidade. Entre os organizadores, o aluno João Pedro Avelino, monitor da disciplina e um dos responsáveis pela estruturação logística, relatou os bastidores da preparação da Mostra e a dimensão formativa que essa atuação proporcionou. Antes de sua fala, o discente comentou sobre o desafio de pensar um evento acadêmico desde a divulgação até a montagem dos espaços de exposição, especialmente para um curso em que a maioria dos estudantes está vivenciando suas primeiras experiências com eventos institucionais. Em suas palavras, o esforço coletivo exigiu organização, dedicação e bastante diálogo.

“Bem, ser organizador de um evento tão grande realmente é um trabalho complicado que demanda um pouco de tempo, um pouco não, demanda muito tempo, demanda muita coisa. (…) Mas o importante é que a gente conseguiu planejar isso com bastante antecedência, deu tudo certo, temos aqui vários trabalhos maravilhosos na área da história falando da parte do ensino e das práticas pedagógicas”, afirmou. Ele destacou ainda que o processo de aprendizagem não se limita ao conteúdo histórico, mas envolve compreender a sala de aula como um espaço vivo, que exige sensibilidade, postura e clareza metodológica. “A gente está trabalhando aqui justamente a questão do povo dentro da sala de aula. Porque a gente está aqui para ser professores e exercitando tanto o campo da pesquisa quanto o campo do ensino. Esse evento é muito importante para mim porque acaba auxiliando muito dentro da formação, tanto no currículo, como nas abordagens e na convivência com os alunos”, completou, ressaltando que o contato com múltiplos temas e estratégias didáticas amplia a percepção do aluno sobre seu próprio papel enquanto futuro docente.

Entre os trabalhos expostos, um dos que mais despertou atenção foi o subprojeto desenvolvido pelo estudante Renan Santos, do 2º período do curso, que abordou a temática da democracia e cidadania ateniense sob uma perspectiva crítica e comparativa com o contexto político atual. Antes de apresentar seu pôster e explicar a microaula, o discente contextualizou que seu grupo buscou, desde o início, dialogar com problemáticas existentes nas salas de aula do ensino básico, de modo a transformar o estudo da Antiguidade em ferramenta para debate contemporâneo. Essa abordagem não apenas aproxima a História da vida cotidiana dos alunos, como também estimula a reflexão sobre estruturas de poder e participação política.

Em sua fala, o discente Renan Sousa detalhou como o grupo chegou ao recorte temático e quais foram as reflexões que orientaram o desenvolvimento da proposta: “Essa ideia surgiu por conta de que a professora propôs para a gente conciliar os debates historiográficos com os debates que estavam acontecendo no ensino básico. E o nosso grupo teve a ideia de trazer esse tema, democracia e a cidadania ateniense, porque a gente vê que esse conceito era muito excludente, onde muitas pessoas não tinham participação”, explicou. Ao aprofundar o paralelo histórico, ele destacou que a reflexão se torna ainda mais potente quando o aluno percebe que exclusões estruturais persistem. “Você se pega e para para pensar: será que esse panorama realmente mudou? Será que as pessoas hoje em dia também têm participação política”, questionou, convidando o público a refletir sobre os limites e contradições da democracia representativa.

A microaula do grupo utilizou uma charge como elemento central, estratégia que, segundo o discente , permite sintetizar situações complexas de maneira acessível e crítica. “Ela de maneira satírica retrata de forma perfeita como era a democracia ateniense (…) e por isso a gente escolheu essa charge”, explicou o estudante. Ao comentar sobre o impacto da Mostra em sua própria formação, o aluno Renan Sousa ressaltou a importância do processo de planejar, fundamentar e executar uma aula, algo que, para ele, deveria fazer parte do cotidiano formativo de todo futuro professor. “A gente passou por três passos: fazer o plano de aula, ir atrás de materiais e preencher lacunas, e depois escolher uma linguagem. Esse exercício ajuda muito na formação”, concluiu.

A I Mostra de Projetos de Ensino de História encerrou suas atividades destacando a diversidade de abordagens didáticas e a integração entre conteúdos historiográficos e propostas metodológicas voltadas ao ensino básico. O evento reuniu diferentes produções acadêmicas elaboradas pelos estudantes ao longo do semestre, apresentando ao público um panorama das práticas desenvolvidas nas disciplinas envolvidas. A iniciativa contribuiu para a socialização dos trabalhos e para o registro das etapas formativas realizadas no curso de História da UESPI.