Por: Lucas Ruthênio
O AGROTECH Mucambo, projeto desenvolvido no Campus Professor Barros Araújo (Picos), é um dos destaques do UESPITECH II, que chega à segunda edição financiando iniciativas de inovação científica e tecnológica alinhadas ao Plano de Desenvolvimento Econômico Sustentável – Piauí 2050. Com apoio de até R$ 25 mil para cada uma das 20 propostas aprovadas, o programa fortalece a pesquisa aplicada dentro da universidade e estimula soluções voltadas às áreas de educação, saúde, energias renováveis, tecnologias da informação, turismo e práticas pedagógicas inovadoras.

Imagem ilustrativa gerada por IA
A proposta do UESPITECH II é reforçar o papel da universidade pública como produtora de conhecimento voltado às necessidades sociais do Piauí. Para o Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UESPI, Rauirys Alencar, o edital representa um marco no fortalecimento da pesquisa aplicada dentro da instituição. Ele destaca que a iniciativa amplia a presença da UESPI como agente de transformação regional ao aproximar ciência, desenvolvimento tecnológico e demandas locais. Segundo Rauirys Alencar, “a iniciativa amplia a integração entre o conhecimento acadêmico e as demandas sociais e econômicas do Piauí, posicionando a UESPI como um polo de inovação regional”.
Além do financiamento dos projetos, o edital prevê bolsas de produtividade em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, viabilizadas por meio de parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI). Trata-se de uma medida que fortalece a formação de pesquisadores e incentiva estudantes de pós-graduação, consolidando a cadeia científica da universidade.
O AGROTECH Mucambo, desenvolvido no Campus Professor Barros Araújo (Picos), se destaca por propor soluções tecnológicas para o uso racional da água e a otimização da produção agrícola em comunidades rurais do semiárido. A iniciativa envolve docentes e discentes do curso de Engenharia Agronômica, com foco na comunidade Chapada do Mocambo, composta majoritariamente por mulheres agricultoras, em uma região onde o acesso a tecnologias sustentáveis ainda é limitado.
Tecnologia e energia limpa aplicadas ao cotidiano das agricultoras
O AGROTECH Mucambo é coordenado pelo professor Wagner Rogério Leocádio Soares Pessoa, do curso de Engenharia Agronômica. A partir da observação das condições de trabalho da comunidade Chapada do Mocambo, o docente identificou a necessidade de soluções que reduzissem o esforço físico das agricultoras e tornassem o manejo hídrico mais eficiente. Ele explica que a proposta nasceu exatamente da junção entre a dimensão ambiental e a demanda social das mulheres rurais.

Segundo Wagner Rogério Leocádio Soares Pessoa, “a proposta surgiu em aliar sistemas de menor impacto ambiental através de fontes renováveis de energia e aliado a isso o menor esforço das mulheres associadas à comunidade Chapada do Mocambo”.
Essa integração entre tecnologias limpas, energia renovável e melhoria das condições produtivas é o que estrutura o projeto. O coordenador aponta como diferencial o foco na autossuficiência e no uso de fontes alternativas nas atividades agrícolas. Ele afirma que “a diferença está principalmente em aliar fontes alternativas, renováveis, limpas e autossuficientes com o menor esforço das cooperadas, aumento de produção e oferta de alimentos regulares durante todo o ano”.
A perspectiva ambiental e socioeconômica adotada pelo AGROTECH Mucambo está alinhada às tendências observadas nas principais agências de fomento nacionais. Para o docente, essa é uma característica que situa o projeto dentro do cenário mais amplo da pesquisa científica brasileira. Como ele afirma, “isso está direta e indiretamente relacionado à maioria dos projetos voltados a todas as agências de fomento, não só no Piauí, mas no Brasil como um todo”.
Embora aprovado e já financiado, o projeto ainda não iniciou sua etapa prática. Os recursos foram creditados em setembro, mas a execução depende da chegada dos materiais e da organização da equipe para dar andamento às atividades. O professor Wagner Rogério ressalta que os resultados ainda não podem ser mensurados, afirmando que “ainda não houve aplicação efetiva dos recursos disponibilizados, pois temos que aguardar os mesmos chegarem e a disponibilidade da equipe para a realização das etapas”. Ele reforça que o trabalho ainda se encontra em fase inicial: “não temos como explanar os resultados, pois o projeto ainda não entrou na parte prática”.
Entre as próximas ações previstas está a aplicação de questionários com as agricultoras da comunidade, visando registrar mudanças antes e depois da instalação dos sistemas. O coordenador comenta que esse será um dos principais instrumentos de acompanhamento do impacto do projeto.

Mesmo antes da execução prática, o professor destaca a intenção da equipe de transformar a experiência em um modelo que possa ser replicado em outras regiões do semiárido nordestino. Ele explica que “a nossa proposta é justamente essa. Criar no Piauí, e por que não no Nordeste como um todo, iniciativas como esta. Tomando como modelo esse projeto, para que essa iniciativa se propague na região, melhorando consideravelmente a vida dos produtores do semiárido”.
Para ele, criar mecanismos de permanência das mulheres no campo, evitar o êxodo rural e promover o uso racional da água são metas compatíveis com o papel institucional da UESPI. O docente ressalta que, mesmo com 35 anos de existência, a universidade deve manter-se na liderança da pesquisa e extensão no estado, afirmando que “a UESPI, apesar de seus poucos 35 anos de atuação no Piauí, tem que estar na vanguarda de pesquisa, extensão e inovação no estado”.
A formação acadêmica como eixo central do projeto
Além da dimensão tecnológica e social, o AGROTECH Mucambo exerce um papel formativo essencial para os estudantes que integram a equipe. A participação discente reforça a articulação entre sala de aula, pesquisa e realidade rural, aproximando os futuros agrônomos das demandas do semiárido.

Carolina Santos, discente de Engenharia Agronômica, integrante do projeto AGROTECH Mucambo.
A discente Carolina Santos, do curso de Engenharia Agronômica, destaca que participar de um projeto que une tecnologia, sustentabilidade e impacto social amplia a compreensão sobre a prática profissional. Para ela, vivenciar um projeto com esse tipo de alcance transforma a forma como os estudantes percebem o papel da universidade.
Segundo a discente, “é de imenso prazer participar de um projeto tão amplo, que visa um melhor manejo de produção para as agricultoras. Além de ser uma oportunidade de aprendizado e convivência para nós futuros agrônomos”.
Carolina Santos explica que a equipe ainda aguarda o início das atividades práticas, mas já se dedica ao acompanhamento das etapas preparatórias. Sobre essa fase, ela afirma: “é um projeto que vamos começar a desenvolver e acompanhar os professores, mas com certeza será muito enriquecedor para nós”.
A presença feminina dentro do projeto também é significativa para a discente, que observa como iniciativas desse tipo contribuem para ampliar a atuação das mulheres no campo da tecnologia agrícola. Ela afirma que “ainda é um ambiente predominantemente masculino, mas essa oportunidade transforma essa visão e nos traz muitas oportunidades dentro desse contexto”.
A estudante comenta ainda a importância do edital para o incentivo à pesquisa dentro da universidade pública. Para ela, “vemos que os investimentos estão sendo colocados nos lugares corretos. É um orgulho fazer parte da universidade pública e torcemos para que cada dia mais aumentem os investimentos e os esforços para um ensino público de qualidade”.
A discente Luana Soares Silva, também de Engenharia Agronômica, reforça essa percepção ao destacar que participar do AGROTECH Mucambo representa uma oportunidade de compreender como tecnologias e práticas sustentáveis podem impactar diretamente o cotidiano rural. Segundo ela, “está sendo uma experiência muito enriquecedora. Eu sempre ouvi falar sobre inovação e tecnologia, mas viver isso especialmente voltado ao campo é algo totalmente diferente”.

Luana Soares Silva, discente de Engenharia Agronômica, participante do projeto AGROTECH Mucambo.
Luana Soares Silva destaca ainda que o grupo está na fase de planejamento, mas que a expectativa para o início do trabalho de campo é grande. Ela afirma que “por enquanto, ainda não atuei na parte prática do projeto, mas estou envolvida nas etapas de preparação e entendimento das metodologias que serão aplicadas”.
Assim como Carolina Santos, a estudante ressalta a relevância do protagonismo feminino em áreas onde sua presença ainda é reduzida. Para ela, “fazer parte desse projeto é também uma forma de ocupar e afirmar esse lugar. É um sentimento de orgulho, de saber que estou abrindo caminhos”.
Sobre o impacto do edital UESPITECH II na visão da comunidade acadêmica, a estudante comenta que “esse incentivo faz toda a diferença. Mostra que a universidade pública tem um papel essencial na transformação da sociedade”.
Um projeto que dialoga com o presente e projeta o futuro
Em sua essência, o AGROTECH Mucambo representa uma iniciativa que traduz os objetivos do UESPITECH II: promover a inovação sem perder de vista a realidade local, integrar diferentes áreas do conhecimento e fortalecer a trajetória formativa dos estudantes da UESPI. Apesar de ainda estar na fase inicial de execução, o projeto reúne expectativas significativas para as atividades que serão realizadas nas próximas etapas.
Ao propor soluções tecnológicas para o uso racional da água e ao direcionar suas ações para uma comunidade formada majoritariamente por mulheres agricultoras, o projeto aponta caminhos possíveis para o desenvolvimento sustentável do semiárido piauiense, em consonância com as diretrizes do Piauí 2050