Por Clara Monte
Durante o mês da Consciência Negra, são promovidas ações de combate ao racismo e reconhecimento da luta pela igualdade social. Na Universidade Estadual do Piauí (UESPI) as políticas de inclusão são trabalhadas desde a sua fundação. O sistema de cotas é uma dessas políticas.
A UESPI reserva, em cada seleção para ingresso nos cursos de graduação, no mínimo 50% das vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o Ensino Médio em escolas da rede pública de ensino, com renda per capita de até 1,5 (um e meio) salários mínimos. Destas reservas, 45% serão destinadas a pessoas negras, pardas, quilombolas e indígenas.
A Assessoria de Comunicação da UESPI realizou uma entrevista com a aluna Kamily Vitória Barbora, de 19 anos, que cursa atualmente o terceiro período do curso de Direito, do campus Clóvis Moura da Universidade Estadual (UESPI). Ela é uma das ingressantes na universidade pelo sistema de cotas para estudantes negros que estudaram em escolas públicas.
Ascom: Para você, qual a importância do Sistema de Cotas na sua vida?
Kamilly Vitória: Para mim, essa medida é muito importante e necessária, já que historicamente existe uma defasagem de oportunidades entre estudantes de escolas públicas versus estudantes de escolas particulares, que se agrava mais ainda quando esses estudantes são negros.
Ascom: A UESPI possui 74% dos seus professores autodeclarados pretos ou pardos. Como você se sente com essa representação?
Kamilly Vitória: Tenho um professor negro, inclusive o mesmo é coordenador do curso direito no Campus Clóvis Moura. Pra mim, é uma grande representatividade.
Ascom: O dia 20 de novembro é comemorado o Dia da Consciência Negra. O que a data representa para a luta antirracista?
Kamilly Vitória: Eu considero como uma data necessária que traz um pouco para a sociedade a importância de se conscientizar sobre as questões raciais, principalmente em relação ao antirracismo. Ainda existe muita desinformação causada pelo racismo estrutural que permeia a sociedade brasileira como um todo, então acredito que datas como essa trazem oportunidades a pessoas pretas a falarem sobre o racismo e como ele pode e deve ser combatido.
Ascom: Você acredita que existe o racismo velado na sociedade?
Kamilly Vitória: Sim, principalmente aqui no Brasil por conta do mito da ”democracia racial”, como se todos os grupos raciais do país vivessem em perfeita harmonia, o que não é o caso, e faz com que as pessoas acreditem que esse racismo não existe e por consequência, que ele seja praticado de uma forma mais velada.
Ascom: Qual a importância da Universidade promover discussões sobre esse tema?
Kamilly Vitória: É extremamente importante que universidades públicas promovam discussões sobre o racismo, principalmente em um país composto na sua maioria por pessoas negras. A universidade deve ser um espaço de inclusão que promova a conscientização sobre as questões envolvendo todas as minorias da sociedade.
Ascom: Você como estudante de direito, acredita que possa ajudar na luta contra a discriminação ainda presente na sociedade?
Kamilly Vitória: Sim, ainda que o judiciário também seja permeado por muita desigualdade racial, acredito que posso auxiliar no combate ao racismo promovendo discussões em torno desse tema que possam chegar a conselhos como a OAB, juízes, promotores e demais profissionais do direito.
Ascom: Você gostaria de deixar alguma mensagem final?
Kamilly Vitória: Fico feliz que tenha sido convidada a dar essa entrevista, pois é um sinal que a universidade está aberta a dar espaço para pessoas negras contarem sobre suas vivências, especialmente enquanto estudantes universitários.